Considerações sobre o filme "Precious: Based on the Novel Push by Sapphire"
Olá pessoal. Estreiando o blog.. uhul! :P
Hoje a tarde saí acompanhado de dois grandíssimos amigos meus: Franco, Bruno e Felipe. Depois de comermos um Subway decidimos ir ao cinema, Franco indicou-nos o filme "Precious". Bom, achei bacana e fomos assistir o filme, a namorada de Franco chegou um pouco depois e nos acompanhou na sessão.
Ps: SPOILERS HÃO DE VIR :P
O filme trata da vida de uma jovem, negra, residente do bairro Harlem de 16 anos. Retrata sua vida sofrida, repleta do que a sociedade chamaria de absurdos (dentre eles até incesto, abuso sexual do pai sobre ela). Porém, o filme me deu insights muito bacanas e decidi dividí-los aqui.
O nome da jovem é Precious (Preciosa). Além de sofrer com sua obesidade, sua vida é extremamente difícil: sofre com o ódio de sua mãe, com o fardo de ter 2 filhos com seu próprio pai e não aprender nada na escola. Somado a isso, temos também o desrespeito dos colegas com a mesma. Apesar disso tudo, talvez por sua ignorância ou talvez por sua grande força de vontade, Precious sonha. Devaneia. Ao longo do filme, sempre que passa por momentos tensos ou ruins ela se pega imaginando uma vida diferente, enxerga ela mesma com sucesso, amor, carinho e tudo que sempre quis. Grávida do segundo filho com seu pai, ela é chamada pela diretora da escola devido aos seus problemas e é indicada a uma escola colocada como "alternativa". Precious decide acatar a sugestão da diretora (o que causou mais problemas ainda com sua mãe) e passa a estudar com uma professora dedicadíssima na tal "escola alternativa". Junto com ela estão outras 5 ou 6 jovens, todas com problemas semelhantes e histórias de vida difíceis, dentre delas imigrantes ilegais, drogadas, mães que deram a luz ainda jovens e etc...
Ao longo da história, Precious aprende com a professora a ler e a escrever. Consegue fazer boas amizades, briga com sua mãe, tem seu segundo filho (a primeira filha dela se chama Mongo, segundo ela, diminutivo de Mongolóide dado pela mãe pois a menina sofre de síndrome de down) e descobre até que (graças ao incesto de seu pai) é portadora do vírus HIV.
Tem muitos outros detalhes, os quais não lembro e deixo a vocês que assistam o filme. A cena que mais me chamou atenção porém, é quando a assistente social/terapeuta chama filha e mãe (Precious eventualmente abandona a casa da mãe) para discutirem a situação e analisar o ganho de dinheiro da previdência social.
Pelas minhas palavras certamente não consigo passar o drama de uma jovem de 16 anos que jamais fora amada, sempre sonhara com um namorado e nunca tivera admiração de ninguém, mas foi extremamente dramática a cena aonde a mãe finalmente admite o porque do ódio pela filha:
A mãe sempre tivera ódio de Precious pois seu marido havia tido com ela 2 belos filhos e a amava. Isso a deixava possessa com a própria filha, fazendo com que a chingasse da pior maneira possível todos os dias e também a agredisse de maneira extrema. A terapeuta então indaga sobre o abuso sexual do pai com a filha, e para minha surpresa a mãe admite que sempre amou e cuidou da filha. Porém quando o marido a tocava, precious não gritava, não falava (ela tinha 3 anos...), e que ela própria questionava seu marido sobre isso e o mesmo dizia que Precious gostaria. No final a terapeuta chora, Precious sai pela rua com sues 2 filhos, abandonando a mãe e sonhando com um diploma de ensino superior e com a missão de cuidar e dar o amor que nunca teve aos seus dois filhos, junto com o peso de ser soropositiva.
A história é boa, um drama excelente e recomendo que assistam. A alusão porém, com o nome da menina e a vida dela para mim soa perfeita.
Alguns pontos que me chamaram atenção:
1) Sobre mim, minha carreira e o mundo: Penso agora quantas e quantas "Precious" existem no mundo hoje. Permita-me assumir minha condição como jovem sonhador e querer consertar o mundo e os seus problemas. Cursando Psicologia encaro como missão promover ao longo da minha vida sempre a saúde e o bem estar mental das pessoas (sempre entendendo que pra isso é necessário que existam condições básicas de existência, como uma moradia, comida e profissão), e ao imaginar quantas pessoas existem por aí (como a personagem) senti-me ainda mais motivado a seguir esta carreira. Entendo que assim como para Precious muitas outras pessoas encaram a vida com dificuldades que saem do nível da normalidade, algumas, vivendo sob tensão mental extrema sem condição nenhuma para conseguirem ver seus próprio valor como ser humano, apenas existindo e não vivendo. Não porque não querem, mas talvez porque estas condições jamais surgiram ou tiveram espaço em suas vidas. O drama me fez enxergar mais ainda o meu futuro dentro da área da saúde mental, motivei-me a estudar e seguir em frente para poder exercer e mudar as coisas de maneira concreta. Isso me deixa feliz (não o fato de existirem pessoas tristes ou com dificuldade!) e afirmo aqui que sigo firme na Psicologia!
Por fim, queria fazer uma alusão ao final do filme: Com as luzes apagadas e a história envolvente, certamente estávamos todos na sala de cinema envolvidos com a história e dotados de fortes emoções. Mas ao apagar as luzes, simplesmente nos levantamos, saímos, colocamos nossas coisas no lixo e, ao passarmos uma porta nos deparamos com o mundo e logo nos esquecemos do que vimos durante as horas de filme. Certamente, posso estar errado, talvez muitas pessoas tenham saído dalí com insights tão bons quantos os meus ou até certamente superiores! Mas as vezes parece que encaramos as coisas assim, como um mecanismo de defesa: sabemos as dificuldades, as tristezas e o que acontece na nossa volta, mas ao nos darmos conta que estamos no plano do real acendem-se as luzes e acordamos... e logo esquecemos as coisas para entrarmos em nossas rotinas.
2) Sobre o Espírito humano: Ao acompanhar a história de Precious, também me faz pensar o quão maravilhoso pode ser o espírito que carregamos dentro de nós. Diante de tantas dificuldades e até mesmo afirmando que o amor nunca trouxe nada a ela a não ser dor, tristeza e abuso sexual, Precious se manteve firme. Estudou, aprendeu a ler e a escrever. Colocou em sua cabeça que iria criar seus filhos e dar a eles a base emocional que jamais teve durante toda a sua vida. Iria educá-los e transformá-los em boas pessoas. Mesmo ao ter a notícia de ser protadora de HIV, chorou ao falar para suas amigas, mas em pouco tempo estava em pé novamente.
Diante de todas as dificuldades Precious se manteve. Certo que estamos falando de um filme, mas vamos nos lembrar que a arte nada mais faz que imitar a vida, exemplos de pessoas com um espírito forte e uma luz que se espalha para os outros não nos faltam na vida e ao mesmo tempo enobrecem nosso próprio espírito, quase sempre, fazendo com que esbocemos sorriso.
3) Sobre a importância das escolhas na nossa vida: Quando a mãe de Precious disse, indagada pela terapeuta, que não havia socorrido a filha do abuso pois ela parecia gostar (não pedia socorro) e porque tinha medo de que ao contrariar o marido iria perdê-lo me veio na cabeça a importância das escolhas na nossa vida. Dia após dia fazemos escolhas. No caso da mãe de Precious, seu egoísmo mesclado com sua ignorância desencadearam em uma vida de ódio e frustração tanto para ela quanto para a filha. O tempo passa e estamos sempre tendo que escolher entre um ou outro caminho. Ou fazemos isso, ou fazemos aquilo. É certo que por fim, sempre nos damos conta que as escolhas foram certas, afinal, no mínimo nos deram aprendizagem para que os erros não se repitam. Mas ainda assim, é de se pensar o quanto talvez um "sim" ou "não" pode mudar nas linhas do tempo (para alguns, destino) e do espaço como será nossa vida em um geral daqui pra frente.
Grande e talvez filosófico demais, mas fazer o que, é meu hobby pensar.