Pensamentos acerca do filme "Gênio indomável"

Assisti hoje ao filme “Gênio Indomável”. O filme trata da história do gênio Will Hunting, um rapaz pobre que possui uma inteligência acima do normal e problemas em relacionar-se com as pessoas ao seu redor, com exceção de seu grupo de leais amigos que moram em seu bairro. Will acaba resolvendo um problema de matemática impossível deixado nos corredores por um renomado professor da universidade Harvard e surpreende este professor, que passa a ir atrás dele para levá-lo no caminho da pesquisa e ciência. Porém Will é uma pessoa problemática e com comportamentos anti-sociais, com uma ficha criminal já cheia de diversas ocorrências e agressões (ele que fez todas as suas defesas no tribunal e ganhou todas!) e após envolver-se em mais uma briga na rua é sentneciado a 50 anos de cadeia. O professor conversa com o juíz e o mesmo diz cancelar a pena de Will se o mesmo cumprir com 2 condições: a primeira é que deve ficar sob custódia do professor sendo este responsável por Will e, segundo, deve fazer terapia com um profissional e o professor deve acompanhar as sessões. Obcecado pela inteligência sobrenatural de Will o professor de harvard topa esta empreitada. Passam-se diversos terapeutas mas Will, o “gênio indomável”, passa por cima de todos eles. Eis que então, como última tentativa o professor acaba por pedir a ajuda d eum velho amigo e rival de faculdade, o psicólogo Sean Maguire. Ao longo das sessões Sean consegue de maneira vagarosa ir aprofundando-se em Will e o mesmo também vai abrindo-se mais com o terapeuta enquanto o laço vai sendo formado. Quando consegue fisgar Will, Sean descobre também as fichas e ocorrências de Will que estão lotadas de agressões físicas por parte das pessoas que tentaram adotar o órfão. Entendendo então o passado conturbado de Will onde o mesmo foi negligenciado por todos aqueles que deviam amá-lo fica exposto as “causas “ do comportamento anti-social de Will e seu medo de envolver-se demais com as pessoas (ele conhece uma garota durante o filme, apaixona-se, mas acaba por terminar com ela devido ao seu problema). Ao final do filme Sean consegue fazer um bom trabalho e Will finalmente consegue entrar em uma vida profissional e não ter medo de seu futuro e de ser deixado.

Bom este filme torna-se interessante por muitos motivos para mim mas o que eu acho válido expor aqui é a questão de que comportamentos são adquiridos ao longo de nossa vida. Ainda que possamos nascer já com mecanismos comportamentais (como nosso sistema de luta ou fuga) devido a nossa herança filogenética boa parte de nosso repertório é adquirido ao longo de nossas vidas, sendo modificado cotidianamente enquanto interagimos com o meio que estamos lidando. Chama-me atenção encararmos o comportamento humano desta maneira o fato de que ao adotarmos este pressuposto (tirado da corrente behaviorista) podemos entender porque alguns comportamentos ocorrem e, ao mesmo tempo, podemos sempre encarar com um viés de possibilidades: embora seja assim hoje podemos certamente mudá-lo para o amanhã; É uma questão de modificar o comportamento. Sair deste “engessamento” nos possibilita análises muito mais amplas como por exemplo a respeito das tais “doenças mentais” que estamos acostumados a ouvir falar. Poder sair de um viés estagnado de que a pessoa “é” esquizofrênica porque nasceu com problemas em seu cérebro e que será assim sempre e passarmos a entender que um diagnóstico como a esquizofrenia desenvolve-se ao longo da história de vida do organismo e sua relação com o meio ambiente abre portas para uma nova maneira de compreender e entender o homem e sua relação com o meio em que está inserido, inclusive de perspectivas muito mais humanistas. Não obstante podemos finalmente abrir espaço para saírmos de uma análise individualizada e culpabilizadora das pessoas (ele é doente, ele é fraco, ele ruim, ele é malvado) para entrarmos em uma gama onde o meio em que ela desenvolveu-se (como por exemplo, a família, a sociedade, cultura, sistema econômico..) tem as causas primordiais de seu repertório comportamental hoje e que, é também no meio que devemos realizar intervenções e não apenas em pessoas isoladamente (como excluir os “loucos” por exemplo). No filme percebemos que o terapeuta aproxima-se de Will e explicita para ele que não é culpa dele ele ser assim hoje. E de fato não o é: ele esteve sujeito a um ambiente repressor e punitivo que o ensinou a evitar o contato com as pessoas. Isto é um grande passo para compreendermos muitos diagnosticos relacionados a saúde mental hoje. Seria mesmo a depressão, esquizofrenia, drogas um problema dos “fracos” e dos “medíocres” ou consequências de um modo de viver e relcionar-se?

Gosto desta perspectiva e das possibilidades que ela nos traz. Desde muito cedo pra mim é inconcebível afirmações do gênero “sempre foi assim e por isso continuará sendo” ou 'não adianta fazer nada porque as coisas são assim”. Encontrar isto dentro de minha área de estudos é como achar um oásis em um deserto. Minhas perspectivas de trabalho vão neste sentido: no de mudança, transformação, quebra de conceitos ultrapassados e constante renovação do conhecimento e sua utilização.

Um abraço e feliz 2011!

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