E lá se foi outra vida. Dessa vez a de um atleta. Ia ficar calado, mas é evidente que os ânimos fizeram as pessoas se manifestarem, dentre as quais as que mais me chamam atenção são as dos setores tradicionalmente defensores da existência de uma corporação militarizada como encarregada da segurança pública e contato com civis.
A estas pessoas normalmente passa batido uma série de atitudes muito semelhantes e cotidianas protagonizadas pela Polícia Militar, mas que como acontecem com sujeitos desviantes do padrão ético-estético-político do "cidadão de bem", tranquilamente são moralmente flexibilizadas e em alguns casos, no máximo alvos uma leve lástima ou até de exaltação - menos um mau elemento no mundo. O recente caso do garoto carioca de 11 anos que foi executado pela Polícia está aí pra provar isso: enquanto neste último a grande maioria não duvida que ele tenha culpa e que era um bandido (segundo relato da PM ele possuía armas e atirava, já presentes e os pais disseram o contrário), no caso do surfista logo não se tem dúvida alguma que a versão do policial certamente é exagerada. Aqui se adequa a expressão "dois pesos, duas medidas" - ou melhor: "dois autos de resistência, duas medidas". Ninguém duvida que nosso atleta (eu incluso) não foi agressivo ou ameaçador com o policial. Mas já esse favelado de 11 anos... esse sim com certeza fez coisa! Sobre este último, nem um lamento dos moralistas.
Seja quem for: cor, sexo, idade... a PM mata. Ela é feita pra ser assim. Dado o passado do policial militar que executou o surfista fica óbvio que ele com certeza já tinha um histórico pessoal de agressividade e abuso de poder. Coisa que de forma alguma é incomum dentro da corporação. Ela cria gente assim. A única via de se passar a reduzir esse tipo de caso é desmilitarizando a polícia. Há quem ache isso uma medida "esquerdista" ou que implicaria em uma desobediência civil ainda maior. Puro ato reacionário. É muito mais conveniente uma polícia imbricada e unida ao povo, baseada na conscientização e no amor por este do que uma que se coloca acima do bem e do mal e muitas vezes anseia oprimir "vagabundos".
Eu não quero que mais pessoas, sejam elas surfistas, faveladas ou manifestantes, morram por causa de uma corporação completamente incompatível com a civilização democrática e civil contemporânea.
PS: Eu sei que existem Policiais Militares que não se enquadram nisso e que inclusive questionam tais ações. É pensando até nestes que eu escrevo a crítica - não dirigida a eles, mas em solidarização a eles e as críticas que eles fazem ou são impedidos de fazer.
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