Formação Política e Profissional


Por muito tempo, em especial durante meus anos no ensino médio passei a atentar-me mais aos movimentos sociais que aconteciam no mundo, mas principalmente ao meu redor. No começo, admito que julgava da maneira mais liderada pelo senso comum e a mídia dos jornais de almoçoe horário nobre: baderna, pessoas revoltadas, socialistas, etc...
Atentando apenas a estes limitados detalhes, jogados a mim por grupos ou entidades específicas adotava uma posição de muita descrença e falta fé neste tipo de mobilização: tudo que é público e/ou vinha do povo tinha um significado de baixa relevância dentro de mim. Não satisfeito, ainda achava que de certa forma as atitudes da polícia eram mais que justificáveis diante dos manifestantes.
Felizmente, a medida que estudamos e nos emancipamos como seres humanos, exe4rcendo nossa inteligência e senso crítico passamos a amadurecer e rever muitas das coisas das quais acreditávamos ou víamos como certo.
Atualmente, curso Psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina. Em tal ambiente, aprendi a exercer este meu senso crítico. Infelizmente, não necessariamente dentro das salas de aula de graduação mas justamente passando a ter um contato direto e indireto com o movimento estudantil. Através desta ponte, passei a atentar mais aos movimentos sociais e até mesmo aprticipar deles, não como "pessoa aleatória gritante" mas como elemento consciente da luta e das que4stões e necessidades envolvidas nas exigências públicas. Não cabe agora discutirmos a Universidade e sua função, muito menos se a UFSC cumpre ou não com ela. É fato porém que diante da grande necessidade de trazer as discussões da vida e do real para dentro da sala de aula que um grupo de estudantes do curso se reuniu, e decidiu que era hora de puxarmos um debate sobre a atual conjuntura da nossa cidade.

Antes de continuar relatando esta atitude do coletivo de estudantes, vale colocar aqui a situação que Florianópolis vive com seu transporte coletivo: Este ano a tarifa teve um aumento absurdo: hoje o custo é 2,95. Florianópolis já possuia desde 2005 um histórico revolucionário de um movimento contra o aumento das tarifas a preços absurdos, o Movimento Passe Livre. O MPL em 2005 realizou uma grande movimentação contra o aumento da tarifa, que diante de fortíssima repressão policial partiu para os danos ao patrimônio privado e também a ocupação do Terminal de Integração do Centro da cidade. Com muito suor, machucados e prisões, a tarifa que estava querendo chegar aos quase 3 reais foi reduzida aos seus 2.10. Hoje, revivemos esta realidade na cidade: temos um aumento novamente abusivo da passagem e com os argumentos do aumento do salário de cobradores e motoristas, como sempre, sendo jogados contra a população. Não sendo em totalidade ignorantes e analisando o fato de que o transporte embora seja público, seja gerido por empresas privadas passou então a exigir planilhas de custo através de atos públicos. As planilhas, que foram modificadas em seus custos e tiveram proteção de uma lei que não obriga a empresa a divulgar os orçamentos apenas serviram para gerar risadas do povo, para não dizer lágrimas de tamanha mentira. Com o último ato nas ruas tendo contado com mais de 5 mil pessoas e um número de pessoas cada vez mais esclarecidas de que a luta não encerrará na tarifa e sim na melhora total e quem sabe até municipalização do transport epúblico, temos então uma breve e simples análise de conjuntura. Existe hoje também a Frente Única contra o Aumento da Tarifa, composta por 42 movimentos populares, de sindicatos a partidos. Também faz parte o DCE da UFSC, ao qual faço parte da atual gestão.

Indignados e trabalhando dentro desta conjuntura, alguns colegas (eu incluso) do curso de Psicologia, decidindo trazer a universidade e suas discussões para a realidade da vida, fazendo com que assim, possa pelo menos tentar cumprir sua função construímos um coletivo com mais de 20 estudantes que decidiram puxar esta discussão, englobando também a função do profissional Psicólogo dentro de tal movimento. Como discussão principal elegemos a constituição do sujeito dentro de uma conjuntura com um transporte público precário, ineficiente, nada integrado e acima de tudo caro, inacessível a camadas sociais da periferia, normalmente desempregadas ou sem condições de gastarem 6 reais para ir e voltar atrás de um emprego ou um passeio em alguma das praias. Qual seria a condição desta pessoa em termos psicológicos? Como o profissional da psicologia poderia estudar o fenômeno de estruturação de uma pessoa diante de tamanha falta de acesso a cultura, lazer e até mesmo educação? Há quem diga que movimentos não funcionam, mas temos aí um excelente exemplo do movimento estudantil e o protagonismo do estudante diante de sua formação e graduação em plena universidade.

A importância dos movimentos sociais na minha formação

Foi apenas participando deste tipo de ação, que consegui me dar conta de sua importância. Pegando o caso do movimento estudantil, fica claro o respaldo que isto tem na minha formação profissional, senso crítico e principalmente constituição de sujeito pensante e atuante na conjuntura do real, da vida, do agora. Intervindo para resolver os problemas em sua raíz, e não os colocando apenas a frente ou ignorando suas causas. Não apenas isso, mas estar lá nas manifestações me fez repensar também a estruturação da nossa condição de vida social. Os interesses reais do Estado, a verdadeira função da polícia em grandes números, dispostas a disperar estudantes pacíficos com choque e em contrapartida muito mal espalhadas pelos bairros para dar segurança ao cidadão comum, para não mencionar a falta de viaturas e homens para cobrir a ilha. Fatores assim, estes, que ficam escondidos por cortinas as quais não nos damos conta até que realmente nos coloquemos propostos a enxergá-las. Barreiras invisíveis, que barram o real desenvolvimento do cidadão. Não consigo mais entender aonde se encontra nossa democracia, num lugar aonde a liberdade de expressão e a reinvidicação de direitos através de uma caminhada pacífica pode levar a repressão pesada e violenta de uma polícia treinada e condicionada para defender interesses além do qu8e a população reinvidica. Não obstante, vale também pensarmos o que estrutura e que hierarquias forçam um trabalhador policial a querer bater em pessoas desarmadas ou atirar nas mesmas. Além disso, que estruturas (a poçícia já pode er apiontadas como uma delas) fazem com que a população, mesmo diante de um absurdo que é pagar 3 reais em uma tarifa e um transporte público precário, se mantenha quieta e acanhada, mansa, obedecendo de maneira generalizada (mesmo que angustiada) o que lhes é posto a frente?

Fico feliz em hoje ter tido oportunidades de participar de tais mobilizações. Não vemnho aqui idolatrar ou repassar ideiais de uma sociedade, mas são fatos concretos neste meu relato: é pela participação em movimentos sociais e atuação nos mesmos que eu de fato consegui me achar e identificar não só como pessoa e sujeito, mas principalmente complementar minha formação como profissional que irá lidar diretamente na análise e atuação diante de tais conjunturas reais e postas em nossa frente.