Sobre o diálogo

Faz tempo que não escrevo. Enfim sem chororo.

Em época de eleições e cercado de tantos debates e argumentação é inevitável que eu não percebesse novamente o quanto é importante o diálogo maduro entre as pessoas na formulação e constante aprimoramento de conhecimento e de suas ferramentas de análise do mundo. É através do contraponto e do conflito (não em um sentido maléfico, mas dialético) que torna-se possível a formulação de um novo conceito ou ideia, dessa vez mais trabalhado e dotado de seu histórico de construção. Recentemente conheci a lógica do terceiro incluído (a qual não cabe discorrer muito aqui mas sugiro que se pesquise) e de fato, Marx estava certo desde quando nos trouxe a tese, antitese e a síntese.

Porém não vim aqui escrever para falar isso, algo que certamente já está batido em nossas vidas. Vim aqui pois percebo o quanto o diálogo ainda é encarado hoje com desdém, medo ou como algo ruim. O conflito ainda é visto como algo negativo e não construtivo, é necessário "respeitarmos a opinião um do outro" assim cada um "fica na sua" com suas ideias e seus conceitos de mundo e não precisamos mais discutir sobre nada! Minha indagação (e estou totalmente baseado em minhas percepções, talvez para outros isso não seja um fato real em seu meio de convívio) é do por que, hoje, em pleno século XXI se perpetua o comportamento de esquivar-se da discussão? Posso ir além e questionar a quem/ao que serve este comportamento de que a discussão de assuntos e temas relevantes é ruim dado sua força construtiva e renovadora de conhecimento. É perceptível o quanto esta ótica deixa o indivíduo estagnado e consequentemente suas possibilidades de emancipação se tornam reduzidas. Ao se colocar em nossas mentes que o debate, a discussão é ruim e causa problemas paramos de conversar sobre as coisas sob o pretexto de "respeito" a opinião do outro e deixamos de elaborar críticas mais profundas e coesas sobre determinados temas. É evidente que o respeito é necessário mas é justamente por este respeito que se deve colocar as discordâncias em jogo para que se possa questionar não só o que o outro têm enxergado e refletido mas também o que eu próprio tenho articulado em minha cabeça. A não-discussão só leva a um engessamento de discursos e práticas. Nada pode ser construído a níveis superiores no âmbito individual de análise mas sim através das sucessões de contrapontos e reformulações sobre determinado conhecimento, levando ao acúmulo e a um entendimento maior e real diante de determinados fenômenos. É claro, porém, que é proveitoso a certa camada social que a discussão não seja fomentada nas pessoas pois o ato do debate e do diálogo não só eleva as potencialidades de cada um mas também é provável que leve ao vínculo e a coletividade e portanto, perpetua-se a idéia da discussão como algo ruim, chato, que as pessoas se esquivam.

É evidente que é necessário também maturidade para que a discussão seja conduzida  e enxergada como algo transformador na sua maneira de pensar e na do outro, de maneira que leve a uma construção e não simples oposição de ideias que pode levar apenas a um desconforto e sensação de que nada tenha sido mudado (embora até tenha em determinados níveis de mudança de pensar). Quando menciono "maturidade" refiro a clareza de enxergar estas mudanças em sí e no outro através do diálogo de maneira que saiamos do nível de "convencimento", "copitação", "coersão", etc... para um nível aonde possamos enxergar as possibilidades de análise e  mudança que a conversa pode proporcionar. É o caso dos direitistas e esquerdistas discutindo seu candidato colocando artigos tendenciosos e argumentos de fontes tendenciosas em seus discursos, elencando qualidades do seu e defeitos do outro visando um convencimento ao invés de junção de um material sério para uma análise de conjuntura tanto dos partidos quanto da realidade eleitoral de nosso país. É enxergando as possibilidades de transformação e emancipação que se joga uma luz maior diante da conversa e ela pode tomar rumos mais "maduros" e tornar possível uma emancipação real de se pensar e analisar nossa realidade.

Portanto o diálogo é bom e construtivo. (altas conclusão não? hehe)