A Nota

Estava buscando poemas interesantes hoje. Encontrei este, do autor Ederson Peka que me pareceu muito bom. Me fez pensar, em especial, no movimento estudantil e portanto dedico ele aos estudantes da UFSC :)

A Nota

A nota, sem partitura,
De ouvido, de se expressar,
Sem tom, em qualquer altura,
(Pois o que importa é cantar!)
A nota, ninguém segura,
Se entoada com paixão;
A nota, sem lei, perdura,
(Pois o que importa é a canção!)
E alcança as vias da alma:
Leva à fúria e leva à calma;
Enleva, tinge, desbota,
Move, comove, inebria,
Por talento ou teimosia...
(Pois o importante é a nota!)
Ederson Peka

É possível a transformação da realidade?

Dia 18 de maio, abraço ao HU e eleições do Centro Acadêmico XI de Fevereiro. 3 eventos que marcaram este mês para mim.

Nestes três eventos pude vivenciar no concreto o ideal, o utópico e o que desde cedo muitos nos falam que é impossível ou coisa destes tais de “esquerdistas”: pessoas unidas transformando a realidade e contrapondo-se ao que é imposto a elas de maneira alienígena ao que acreditam ser o melhor para a sociedade.

No Dia 18 de Maio, via Coletivo Pira e Centro Acadêmico Livre de Psicologia foi possível a construção de um espaço inédito dentro da universidade: a inserção do movimento social da luta antimanicomial em seus muros impenetráveis da exclusão. Naquele dia, no projeto 12:30 pude ver na prática como um grupo de pessoas guiado por suas convicções e conhecimento pode mudar a realidade, transformá-la e afetar as pessoas de maneira profunda, que causa mudança, inquietação e um olhar diferenciado para o que no plano do superficial parece uma verdade absoluta.

No abraço do HU, o processo não diferenciou-se. Via Centro Acadêmico Livre de Psicologia, com um trabalho compartilhado dos CA's da Saúde foi possível que houvesse uma mobilização significativa em oposição à MP 520 que visava criar esta empresa “pública” para administrar os HU's. Uma iniciativa que brotou do alto grau de insatisfação dos estudantes diante deste absurdo e que culminou em um ato de cerca de 300 pessoas (dentre elas trabalhadores, usuários, estudantes... cidadãos brasileiros!) dando nada mais e nada menos que um ABRAÇO na estrutura do Hospital Universitário, simbolizando seu comprometimento com o que esta instituição significa para a população que utiliza o Sistema Único de Saúde. Não foi um acaso, uma obra do estino. Foi fruto da ação concreta de estudantes que reuniram-se exaustivamente para pensar e repensar estratégias de como se fazer algo em relação a isto.

Eleições do Centro Acadêmico XI de Fevereiro. Uma prova concreta de que é possível a mudança e que a mesma se dá através do conflito, da contradição e da proposição melhor ao que está em jogo. Não foi apenas um trabalho ideal, utópico. Foi o suor da chapa concorrente, fazendo passagens em sala, debates, vídeos, cartazes, etc... que possibilitou uma votação inédita em um centro acadêmico onde, até então, prevalecia-se um grupo específico de estudantes, já engessado em suas práticas políticas nada transformadoras.

Exponho aqui estes três eventos apenas para atentar e reforçar algo que cotidianamente não somos motivados a pensar (justamente porque a dureza da realidade se mostra contrária a isto): é possível mudar a realidade. É possível que pessoas possam debater e discutir os problemas que a cercam e que afetam suas vidas. É possível pensarmos grandes eventos, grandes momentos e grandes transformações no mundo. Não há utopia nisto pois é sempre algo realizável, algo paupável e que é possível de se atingir através de nada mais e nada menos do que o trabalho, o dispêndio de energia e a ação para que se concretizem estas ideias. É possível que o grupo e o coletivo possa propor, pensar e modificar a realidade. Aí pode-se dizer “Porra Bagé. Você vem falar de um atinho de 300 pessoas. Tudo bem, isso é fácil! Mas e mudar uma cidade? E um estado/ País? Mundo?”. Concordo. Não é a mesma coisa mas ainda assim é possível pois o processo, o pensar, reunir-se, fazer... é e sempre será o mesmo!

Desconheço a fórmula mágica para este sucesso. Porém tenho a certeza de que é no cotidiano, na tentativa, no correr riscos e no errar que estaremos nos aproximando cada vez mais da possibilidade de transformarmos de fato, o que vivemos e sentimos todos os dias.