Porra Freud


Lá estava eu, voltando pra casa de mais uma festa universitária na UFSC. Depois de vastas horas estudando e militando, chega a hora da saudosa cachaça de final de semana com a “rapaziada”. Depois, como de praxe, o regresso cambaleante para meu querido kit-net alugado e devidamente especulado pela corporação imobiliária ao redor de universidades federais.
De repente, em meio a minha odisséia dionísica (porque de homérica não teve nada) passo por um grupo de amigos discutindo (precisamente berrando, provavelmente depois de algumas cervejas) sobre psicanálise. Mas que caralho (opa!)! Essa merda me persegue até quando eu quero voltar pra casa?
Não quis dar atenção ao papo, tratei de ir pra casa logo. Mas em menos de 2 minutos já tinha escutado o nome de Freud umas 4 vezes e certamente não me surpreendi, já que é uma situação bem corriqueira dentro do meu curso – especialmente quando você anda acompanhado de um núcleo extremamente subversivo de estudantes. Mas enfim..

Enquanto subia a rua de meu apartamento já fui pensando: “Mas que sacana esse Freud, porque o cara fica aparecendo desse jeito pra mim?”
Abri a porta, tirei meus tênis e sentei em minha cadeira de estudos. Foi só olhar pra mesa da minha sala e lá estava o caso de neurose infantil que eu nem sequer tinha começado a ler... resolvi passar as mãos pelo meu rosto, ainda tonto, e olhei para minha mesa com meu notebook. Ufa... “pelo menos aqui nesse branco levemente empoeirado esse velho desgraçado não me incomoda!”
Mas pera aí!
Uma anotação... o resumo do texto “recordar, repetir e elaborar”. Que saco! E do lado um dos últimos xerox que havia lido sobre as “aberrações sexuais”. Só faltou ver um falo nas paredes brancas da sala, mas, felizmente (ou não) não estava nesse nível. Resolvi, então, que já me bastava por aquela noite. Arrumei-me pra dormir e quando fui deixar minhas roupas em meu criado mudo, me deparo com um livro! “Ah não!” pensei a mim mesmo... mas era meu querido Pablo Neruda, descansando em minha cabeceira apenas aguardando o momento certo pra ser lido e digerido de acordo com meu ritmo do momento. Suspirei tranquilo, até ver que ele repousava em cima de outro pequeno livro, de capa azul clara. Merda! Lá estava Freud e suas “5 lições de psicanálise”. Nem quando vou pra cama esse cara me dá um sossego?

Depois de ir ao banheiro, fingindo não estar afetado pelas consequentes aparições deste querido senhor em um curtíssimo período de tempo, vi que havia esquecido de pegar meu celular nas prateleiras de madeira grudadas na parede de minha “sala”.
Andei até lá, abaixei minha cabeça e avistei o celular na mesa. Rapidamente peguei-o e enquanto erguia minha cabeça, quase que em uma cena a la matrix, em câmera lenta, começa a aparecer em meu campo visual mais um livro de cor azul clarinha... “Oh céus” - pensei a mim mesmo. E lá estava ELE de novo... com suas Novas Converências introdutórias sobre psicanálise. Levei uma das minhas mãos prontamente a minha testa, conturbado com o que ocorria... rapdiamente dirigi-me a minha cama, não sem antes olhar para o lado e ver um texto de Lacan repousando sobre minha mesa de estudos!
Balancei a cabeça, deitei-me. Indignado com o que havia ocorrido dediquei cerca de 10 minutos para pensar sobre psicanálise e o que havia aprendido sobre ela até então, e como esse tal de Freud queria porque queria aparecer pra mim, insistindo de todas as formas.
Peguei no sono e dormi profundamente.

No outro dia, acordei extremamente disposto, algo incomum nas sextas-feiras as 6 da manhã. Fui a aula de psicanálise, adorei. Depois dei início ao estudo sobre a neurose e o resto do meu dia foi maravilhoso, sem o peso cotidiano comum.