Nesta
semana foi anunciado pela mídia a instalação de portões nas principais entradas
da Universidade Federal de Santa Catarina. Não demorou para a própria
instituição soltar nota própria diante do “rebuliço” causado. O debate sobre
segurança está imposto de vez, mas junto dele há também um debate de fundo:
pra que serve a universidade nacional?
Ainda
que a reitoria tenha explicado que se trata de uma medida que será implementada
após discussão entre a comunidade universitária, e que também seria uma medida
exclusiva para controlar a entrada de automóveis nos horários e dias onde não
há atividade universitária, os portões já colocados trazem junto deles uma
mensagem: não fomos capazes de tratar de forma séria, científica e racional o
problema da violência no entorno da instituição! O tema está em voga já faz
anos, com direito a massacres em favelas, mas a UFSC acorda apenas agora uma
vez que sente em sua pele uma das grandes contradições nacionais.
Surpreende-nos de imediato a ação tomada pela instituição, não apenas pelo fato
de ter implementado os portões em plenas férias, mas pela completa incapacidade
da universidade brasileira em questionar o imediatismo e o reducionismo em voga
na sociedade hoje, que coloca o problema da segurança pública exclusivamente em
termos de cercamentos, mais vagas prisionais e mais aparato policial. Não houve
comoção da comunidade universitária, enquanto totalidade, no sentido de passar
urgentemente a produzir material teórico e científico que estude a fundo e de
forma contextualizada a violência, pelo menos em torno da própria universidade.
Nestas horas é impossível não reivindicarmos a atualidade das críticas
elaboradas por Darcy Ribeiro, especialmente quando o autor apresenta o problema
da modernização reflexa. Em detrimento de pensar a si mesma historicamente e
também o país onde se encontra e os problemas que ele vivencia, a universidade
brasileira desde seus primórdios dedicou-se exclusivamente a ser nada mais que
um espelho que esforça-se ao máximo em reproduzir tudo o que nela chega de
fora, das estruturas a até os temas de pesquisa. Em uma escala micropolítica, a
UFSC ao colocar estes portões deixa claro que em pleno século XXI não superamos
a inércia decorrente da modernização reflexa: mais uma vez a universidade
brasileira se deixa levar pelo pragmatismo e o imediatismo, adequando-se aos
discursos que nela chegam, provenientes de uma sociedade de classes e de uma
cultura que é hegemonizada por quem detém o domínio ideológico. A instituição
não questionou a si e muito menos a sociedade: baixou a cabeça diante de um
problema social grave e se absteve de pensá-lo de forma conjunta com a
sociedade a qual faz parte, deixando de cumprir seu papel social fundamental.
Cumpriu, no entanto, seu papel enquanto aparelho ideológico: reproduzir o que lhe é colocado de forma
automática, tal qual como faz em tantos outros aspectos. O ditado mané
aplica-se de forma magistral: camarão que dorme a onde leva.
Sabemos
que historicamente a universidade excluiu e exclui justamente os setores equivocadamente
considerados como berço do problema da violência. Hoje, acha pela via da
exclusão a solução de um problema que se cria pela própria exclusão. Se ela se
propõe a mudar o país deve entender logo que só o questionamento,aliado ao
acesso e uma verdadeira relação da comunidade com instituição, pode criar as
soluções necessárias e urgentes para nosso país, respeitando seu contexto e
história. Que se arranquem os portões e se abram os olhos! Tenhamos a coragem
de enfrentar os problemas de nosso país de forma séria e laboriosa.