Nunca conheci Marielli. Mas acho que nos conhecemos, no presente mesmo.
Minha realidade é distinta: um branco classe média e uma negra de origem da periferia. Para muitos isso é um abismo intransponível, para uns poucos minha empatia é insignificante ou uma espécie de engodo, apenas pelo meu lugar no mundo e o dela.
Fato é que Marielli se foi e com ela um pedaço de todos nós que acreditamos em uma sociedade mais justa. Não tenho dúvidas que foi alvo por sua condição de negra e mulher. Mais que isso, uma mulher negra que fez afronta direta ao poder.
Hoje foi ela, mas e amanhã? Lembro agora: campesinos e campesinas, indígenas e militantes contra o agronegócio. Ditadura. E os que vieram antes dela? Contestado. Canudos. Escravatura. Quilombos. Sepé Tiaraju. Diretamente encomendados e encomendadas todos, em prol do avanço e do bem da nação.
Podemos escapar disso?