CRôNICAS EM TEMPOS DE GOLPE - ANOTACOES DE UMA PASSAGEM POR SAO PAULO

Hoje pela manhã eu não passei mais de 15 minutos navegando em duas redes: twitter e facebook. Nos últimos tempos minha timeline se restringe basicamente a análises desastrosas (algumas alarmistas) ou pessoas de esquerda fazendo o esforço de apagar o incêndio gerado pela enxurrada de fatos políticos bastante problemáticos.

Não sou adepto do discurso de "vamos falar só das coisas boas"e assim ignorar fatos que por mais nefastos que sejam precisam ser encarados. Por outro lado, está também na hora de trocarmos mais entre pares os momentos de respiro ou de açoes que por mais minúsculas que tenham sido, tenham produzido efeitos coerentes com os valores que nós de esquerda partilhamos.

Esse meu comentário não vem só da angustia de ver apenas (e repetidamente) notícias sobre os mesmos fatos e a desgraça que elas representam, mas por ter vivido em São paulo dois eventos: uma visita ao Memorial da Resistência e a participação no V Congresso Brasileiro de Psicologia Ciencia e Profissão. No primeiro, a memória aparecia como exercício compartilhado ao habitar junto dos narradores a mesma cela na qual experenciaram a tortura no DOPS na medida em que contavam essa experiência, inclusive suas estratégias de resistência. No segundo, a articulação lationo americana feita entre violência, corpo, memória e fascismo faz questionar que mais do que gravar uma bistória é preciso partilha-la junto dos outros, inclusive trocando abraços, danças e dando as mãos.

Minha questão é que tenho começado a entender que a Narrativa Benjaminiana, mais do que uma "fala aberta", é uma atividade, no sentido proposto por Clot e Schwartz. A partilha dessa atividade narrativa é o exercício da memória, algo que temos perdido dada a centralização da produção narrativa da redemocratizacáo e outros movimentos sociais em um paradigma informacional onde o Estado e sua institucionalidade se ocupou de contar por nós os avanços e ganhos conquistados. Por isso, a memória não se dá somente por uma via de gravar informaçoes, mas de partilhar o próprio exercício de narração desta mesma memória.

Por isso o convite à narração e consequente produção de experiências nossas. Mais do que partilhar noticias (importante) temos que ativamente compartilharmos essa prática, que por sinal é a única via de produção de comum: engajar-se juntos e,m algo.