UMA ANOTAÇÃO SOBRE O ATO EM MEMÓRIA DE MARIELLE FRANCO EM PORTO ALEGRE

Vale marcar a beleza que foi o ato em memória da Marielle Franco e em defesa de uma vida mais digna na cidade de Porto Alegre.

Não é de hoje que tenho dito que é inegável a maioria feminina na cena política urbana da cidade. O ato por Marielle teve como marca não só uma hegemonia feminina,mas também muito mais negra. No centro do ato que aconteceu na cidade, estava posta a potencia do feminismo interseccional, especialmente quando dirigido por mulheres negras. Não foi um dia de falas masculinas em palanques: apenas mulheres falaram. Diversas, de várias correntes, todas defenderam de forma muito especial a luta por uma sociedade mais justa, agregando elementos a partir de seus lugares de fala e também de militância organizada.

Disso tudo, há um ponto muito específico me chamou atenção: uma mudança significativa nas palavras de ordem da manifestação. Parece (para mim) ser um desdobramento de uma reconfiguração mais feminista e anti racista em termos na nossa direção política. Ecoa em minha mente até agora: " Marielle perguntou, eu também vou perguntar, quantas mais tem que morrer pra essa guerra acabar". Cantado em voz majoritariamente feminina.

Penso que a linha política posta por essas mulheres dialoga mil vezes mais do que as tradicionais que têm sido utilizadas. Há uma força instituinte sem precedentes se articulando em torno da organização delas e se faz cada vez mais imprescindível para nós homens escutarmos e nos deixar levar por esse fluxo intenso de luta, mas também de amorosidade e busca por justiça.