Há cerca de 2 meses atrás tinha início uma greve generalizada em meu país dos servidores e técnicos-administrativos de todas universidades federais. Apesar do fato estar dado, ainda assim o semestre em minha universidade continuou em plena “normalidade” (bem entre aspas pois não tínhamos mais restaurante, nem biblioteca e nem laboratórios de informática). Mas tudo bem, faz de conta que não deu nada errado pois o semestre já estava acabando. Hoje, passados mais de 60 dias o semestre tem início na Universidade Federal de Santa Catarina ainda com um ar de “está tudo bem”. Mas apenas o ar, pois em termos práticos a cada dia que se passa a continuidade das atividades letivas se mostra insustentável.
O Centro de Filosofia e Ciências Humanas, em decisão correta, optou por não dar início ao semestre letivo (mesmo com pressão por parte da reitoria) diante do desespero de alguns coordenadores de curso e as exigências de que se faça um trabalho que não faz parte de sua categoria. Durante esta semana de paralisação evidentemente não deixei de ir à universidade. Era necessário que os estudantes realizassem algo e também estivessem presentes nos espaços de esclarecimento e debate sobre a paralisação do centro de ensino. Há quem diga que as aulas ainda não começaram. Eu, pelo contrário, ví que elas tiveram seu início exatamente no dia 8 – porém não no formato tradicional de exposição dentro de uma sala de aula.
Foram poucos os momentos onde tive a oportunidade de aprender lições sobre política, cidadania e deliberação coletiva sobre problemas coletivos dentro de minha estimada instituição. Esta, pelo contrário, faz todo um movimento para que este tipo de aprendizagem seja minimizado ao máximo, com uma estrutura muito bem sistematizada para não estimular este tipo de aprendizagem. Seja pela burocratização extrema de espaços de deliberação político-administrativos ou pelo simples descrédito de atividades relacionadas aos movimentos sociais (como o movimento estudantil, MST e luta antimanicomial)., as quais são prontamente rechaçadas por alguns professores ou simplesmente não contam pontos em nenhum sistema da CAPS e do CNPq, fazendo com que professores não estejam impelidos em realizar trabalhos relacionados a isto e, consequentemente, não estimulando a comunidade acadêmica a ingressar em projetos de pesquisa ou estágios vinculados a este tipo de tema. Tema este essencial para qualquer formação de um profissional que tem sua graduação custeada pela população nacional e deve retribuir este investimento através da atuação de um profissional de ponta, disposto e preparado a alterar a realidade nacional em que nos encontramos e que, em grande parte, é marginalizada. E esta população, infelizmente, não é a que busca atendimento nas clínicas privadas, não é aquela que tem suas crianças em escolas particulares e, definitivamente, não recebe nenhum benefício justo de nenhum tipo de empresa privada. Pelo contrário: depende grandemente da estrutura pública que oferece diversos serviços essenciais onde o psicólogo se mostra necessário, e, nestes espaços a disputa política se faz presente, uma vez que está vinculada a um governo federal e recebe diretrizes e metas de todo tipo de programa. São espaços também, que uma vez de domínio público, estão vinculados a todo tipo de decisão que afeta diretamente a vida de muitas pessoas. E aí fica a pergunta: por que, então, a universidade brasileira negligencia campos de formação política de seus estudantes? O compromisso dela é a mudança da sociedade ou uma casa de saberes neutra, que embora custeada por todo dinheiro de uma nação está sempre colocada como um lugar livre e apolítico, sem compromisso com a transformação nacional e limitando-se em sua desculpa de que ao realizar uma SEPEX cumpre seu papel de “disseminar conhecimento”?
Diante de tudo isto afirmo: é tempo de pensarmos e, para sempre, repensarmos qual o papel da universidade na sociedade brasileira. Que ela esteja sempre movida pela energia da juventude e jamais atravancada pelos “velhos costumes” de ordens antigas, ordens estas nada comprometidas com os anseios da população brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário