Politicamente falando, 2013 foi um ano
de crescimento. No início do ano desliguei-me de minha organização política,
vivenciei parte das jornadas de junho e passe livre, passamos a enfrentar
divergências cada vez mais evidentes com os liberais dentro da universidade e
pude ajudar na construção do grandioso movimento político que colocou o
empresariamento em xeque através da polêmica com as Empresas Juniores.
Gostaria de dissertar um pouco sobre a questão da organização política.
A decisão de me desligar de um
partido não foi uma decisão fácil. Quanto mais se avança nas teorias políticas
e principalmente na prática política, mais se percebe a necessidade de
associar-se ou se organizar dentro de um partido. Não é possível para nenhum
movimento que se propõe revolucionário fazer com sucesso o enfrentamento à
ordem sem estar organizado. Sem que exista coordenação e movimentação pensada,
estaremos sempre fadados ao fracasso e ao equívoco das “microrrevoluções”
individualizadas e isoladas. Como intelectuais e cientistas, nossa função será
sempre a de fazer uso da técnica e análise científica para que seja possível
uma leitura objetiva e sistemática da realidade, abrindo o campo para a atuação
política organizada e pensada. Partidos políticos possuem os instrumentos e
principalmente os quadros políticos para realizar esta função e ajudar a
organizar os movimentos sociais. Mas quando afirmamos isto é preciso lembrar
que existe uma contradição entre organização política e movimento social: o
primeiro serve e existe em prol do segundo e jamais deve tomar seu lugar, ao
mesmo tempo em que um movimento social não é e nem deve ser transmutado ou
absorvido em sua totalidade por um partido político e sua dinâmica. Quando a
esquerda organizada proclama “todo poder ao povo” é esta noção que deve ser
lembrada: a construção da organização popular de forma autônoma. Para um
partido político revolucionário esta relação assume um caráter de simbiose,
pois depende da massa para que possa pensar a grande política; depende de um
contato íntimo e mútuo para que possa continuamente pensar e repensar a sua
função e até mesmo sua existência e estruturação. Portanto, quando o partido
político se sobrepõe ao movimento social ele mata a si mesmo e também o próprio
movimento, naquilo que costumamos denominar de “aparelhamento”. Fecha-se na
reprodução de sua própria dinâmica e acaba por perder o combustível que
alimenta a práxis revolucionária. Importante pontuar que esta prática
individualista e interesseira já é a direita quem realiza, pois importa-se pouco com os
interesses do povo e muito menos com sua organização própria.
Assim sendo, como partidário da
construção do poder popular, eu aprendi que o lugar primeiro da formulação
política deve ser o movimento social. Com os instrumentos e teorias avançadas
de quadros políticos, os movimentos sociais podem avançar dentro de suas pautas
e principalmente aprender a se organizar dentro de seus próprios interesses.
Cabe aos elementos mais avançados que sentirem a necessidade de ampliar a sua própria
luta decidirem o ingresso em organizações políticas. O partido político pode
agir como um catalisador deste processo e deve estar sempre pronto para receber
e ampliar ainda mais as capacidades do sujeito no desenvolvimento daquilo que
Lenin denomina “consciência de classe para si”, processo que não deveria
acontecer apenas dentro do partido, mas principalmente fora dele, na ação e
reflexão diante das contradições e limites da própria execução da política.
Em Junho, vivenciamos o asco à todas
as práticas negativas aqui trabalhadas. Práticas que destroem a formulação por
parte das pessoas e retiram delas a possibilidade de elaboração crítica em
relação aos atores que atuam politicamente, bem como ignoram suas vontades.
Este asco mesclado de crítica ao partidarismo foi parte do motor para a
crescente organização de um sentimento forte próximo do fascismo, aonde a
pátria virou o partido e os socialistas e partidários os totalitários e
inimigos do povo. Vejamos como além de prejudicar a própria organização popular
estas práticas equivocadas prejudicam também aos próprios socialistas e a
política, pois sua pedagogia leva a execração do sujeito organizado e não à sua
referencia.
Neste ano, me identifiquei
reproduzindo tais práticas e foi fundamental o resgate desta crítica a mim e
aos meus camaradas. No entanto, entendi que havia certa impossibilidade disto,
uma vez que os que concordavam com a necessidade de retomar este debate não
passavam de uma minoria, que compunham uma ala da organização que, pelas
condições objetivas de sua militância, não podia assumir outro papel senão o que
lhe foi atribuído, qual seja, o de uma minoria “birrenta”e “sem prática” (no
caso, por não recrutar ou mobilizar números grandes de gente). Consumido por
meses de desgaste em relação a isto, a decisão foi a do desligamento do
partido, por não me identificar mais com os rumos que ela havia de tomar dali
para frente. Penso que não poderia tomar decisão mais coerente do que esta, que
certamente me rendeu muitos ganhos teóricos e pessoais.
Este breve texto não é nada mais que
uma retrospectiva pessoal. No entanto, torna-se também um texto político na
medida em que se propõe a debater o tema da organização. Para quem se
“independiza” e não vê muitas referências nos partidos existentes sempre fica a clássica pergunta: O que fazer? Por hora, penso que
a criação de outra organização não seja o caminho, mas tenho a plena certeza
que a negação da importância da organização revolucionária com certeza não é um
rumo a ser tomado. Com a crescente onda ideológica que constantemente afirma um
liberalismo torto, que nega a vida pública e fomenta o ódio através da defesa
do “politicamente incorreto”e de uma suposta luta heroica contra “a imposição
ditatorial da esquerda”, se faz mais do que necessário a retomada de uma organização
política madura e coerente, que tenha como desdobramento disto uma práxis que
promova verdadeiramente a grande política e tenha em mente nada mais que a
revolução social e o combate à opressão – sem abrir mão disto. Nossas armas não
serão nada mais e nada menos que isso no porvir.