Tomás vestia sua casaca surrada,
seus tênis rasgados e seus jeans desgastados enquanto empurrava pessoas para
sentar no metrô. Atraiu olhares de desgosto, mas naquele momento, só conseguia
pensar que todos fossem se foder - queria mesmo é sentar. Sacou de seu bolso um
exemplar de um livro, destes clássicos de bolso que ele já havia lido e que
queria buscar frases de efeito. Observou o quanto adorava ler quando sentia
raiva.
Suspirou profundamente e refletiu
que o livro nada mais era que uma mediação suave, que o retirava do mundo e o
colocava em um contato íntimo consigo mesmo. Concluiu que estes objetos sempre
foram excelentes companhias. Sempre fora seduzido por livros. Escorregar por
suas palavras e pela fantasia era algo que o fazia sentir bem, um gozo
diferente. Quando abriu o livro atrás das marcações que fez nele, deparou-se
com uma pequena ficha com um número. Provavelmente pegara em alguma loja ou
farmácia para entrar na fila de atendimento. Surpreendeu-se diante deste
pequeno fato, com o quanto sua relação com seus livros diziam muito sobre seus
percursos da vida. Verdadeiras companhias. Escreveu em seu caderno:
"E então cheguei ao nível de
tratar meus livros exatamente como faço com memórias de romances passados:
gosto de ir até eles nos momentos oportunos e ver as marcas que eles me
deixaram e que eu deixei neles, os símbolos de nossas trocas: presentes,
cartas, fotos; riscados, sublinhados e frases. Hoje voltei a um deles e
encontrei uma senha destas que você pega para entrar nas filas de lojas. Tentei
lembrar de onde era e aos poucos aquele livro me mostrou parte dos meus
percursos por esta vida. Percursos que eles dividiram comigo: lugares que
passei e coisas que vivenciei."
Optou por terminar com suas
romantizações aleatórias, estas que de súbito ocupam algumas mentes. Achou e leu
as frases que procurava. Após a leitura, fechou os olhos e sorriu. Então olhou
para as pessoas e decidiu oferecer seu lugar a uma moça cheia de sacolas. Deixou
seu livro na mochila e correu para visitar a sessão de clássicos de uma livraria.
Mas desta vez sem empurrar ninguém!
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