Hoje no Brasil, sujeitos que se dizem liberais estão se manifestando contra a palestra da Judith Butler, uma renomada pesquisadora internacional e com produções lidas no mundo inteiro. Estão aparecendo internacionalmente queimando uma boneca da pesquisadora na frente de um SESC – instituição que é mantida pelo grande empresariado brasileiro e que eles apoiaram e apóiam nas “reformas” que têm sido feitas pela burguesia nacional. Realizam esse protesto amparados na argumentação de que ela prega "ideologia de gênero", um termo que está cada vez mais hegemonizando o senso comum e que insinua que há um plano esquerdista de tornar as crianças homossexuais e/ou difundir a pedofilia pela dominação das idéias, plano (segundo eles) em curso no país pelo governo socialista do PT.
Bom, é bem claro que perdemos o fronte e uma mescla de ignorância com conservadorismo venceu a disputa. Mas será? Fico pensando que talvez nunca tenhamos estado por cima de nada. Talvez pela aposta em um programa por demais conciliatório e socialdemocrata, ou pelas importantes conquistas da redemocratização, tenhamos achado que estávamos realmente caminhando em direção a uma ordem e progresso, iludidos por certo sonho positivista de um avanço que vinha devagar, mas vinha! O queixo cai quando nos deparamos com tamanha demonstração de ignorância e uma onda de revisionismo completamente anti-intelectual e anti-reflexão, mas essa dimensão arcaica, que com muito estranhamento se mostra no moderno, é uma questão que Walter Benjamin havia se deparado em sua época, quando observava surpreso a ascensão nazista.
O que ele nos ensina com algumas de suas passagens é que é ao olhar para os restos e as sobras da história contada que entendemos o presente e podemos reconstruir a própria história. A história de 1988 tem sido ensinada de uma forma, bem como a dos últimos 10 anos de governo também. Mas e aquilo que paramos de contar pra fortalecer uma narrativa de coesão e em prol de um “ápice” onde vencemos? Quais sobras nós, como esquerda, fomos deixando na nossa caminhada? Como elas andam se apresentando hoje na nossa militância e coalizão?
Questões...
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