No dia 12/12/2017 recebi duas notícias importantes e que denunciam ainda mais o estado de exceção que se constrói pouco a pouco no país. A primeira delas foi a manutenção da prisão de Rafael Braga e a segunda é o “julgamento” do ex-presidente Lula, marcado já para dia 24 de Janeiro de 2018.
O caso de Rafael Braga é emblemático. Pode tranquilamente ser colocado como uma espécie de caricatura nefasta de um estado de exceção que tem perdurado (ainda que se modulando cada vez mais como biopoder) em nosso país desde os tempos da escravatura: uma justiça altamente seletiva com segmentos bem específicos da população – o povo negro e pobre [A ditadura não cessou nas favelas]. Enquanto ele vai preso por ter um pinho sol na mochila e acusado de forma obscura de tráfico, criminosos de colarinho (e pele) branca “sambam na cara” de todo um povo em TV aberta. Um helicóptero de cocaína, desvios de merenda e escândalo no transporte público aparentemente não são tão graves quanto roubar um pão de um mercado ou pular uma catraca. A manutenção da prisão de Braga e a soltura de todos os outros representantes da política do “grande acordo nacional” é um sinal para o povo pobre e para militantes de todos os segmentos: estamos de olho em vocês. Vocês serão punidos por irem às ruas.
O julgamento de Lula é a cereja do bolo. Julgamento que vai ser novamente um espetáculo, pois mesmo com as “provas” altamente questionáveis e críticas de todos os tipos à dimensão política de seu julgamento [o julgamento de Rafael Braga também é político], a decisão já está dada de antemão: será condenado. Seu julgamento será o mais rápido da Lava Jato (em pleno ano em que vai certamente disputar as eleições) e um dos juízes já se posicionou indiretamente em relação ao seu veredito. A condenação de Lula serve de muitas coisas, mas a que me interessa mais é o evidente ataque à memória do povo trabalhador do país. A primeira presidenta mulher e o primeiro presidente operário, ambos inquestionavelmente eleitos pelas massas menos abastadas do país, serão destituídos de sua importância e relevância histórica para serem taxados como os fundadores da corrupção no país- o que é irônico é que isso será feito justamente por aqueles que são os maiores causadores dos problemas nacionais. Esse duro ataque é outro sinal bem claro para o campo de esquerda: se for necessário, vamos fundo em criminalizar e prender mesmo seus maiores líderes. Faremos valer nossos interesses a qualquer custo, inclusive para a democracia.
Em conversas com amigos tenho dito que estou cada vez mais convencido de que estamos nos encaminhando para um estado de exceção em nome de um ultra liberalismo. Alguns ponderam, outros discordam e alguns concordam. A ambiguidade sobre esse tema fica estampada na cara das pessoas: é uma mescla de “não acredito, ainda dá pra reverter” com “talvez seja verdade”.