No clima das "viradas" pró Haddad, se evidencia pelas malhas das cidades diferenças de abordagens em relação à política. Há um ethos imbricado na práxis dos militantes que delineia posicionamentos que definem formas bastante diferenciadas de ocupar-construir a própria cidade. Vou generalizar a fim de registro pessoal de memória:
Pessoas fazendo campanha pelo #Haddad13: "Vamos conversar" é o mote; trazem amorosidade digna de Paulo Freire propondo sentar com "boulos" e café, tomar chá e trocar abraços; tentativas de discutir civilizadamente posicionamento político (contramão do momento); ocupam a cidade com cartazes com mensagens positivas e pela democracia; espalhados nas ruas; se prestam a ficar bons minutos falando com minions que queriam só importunar. A política aqui se produz parando o fluxo das vidas: sentar com calma e refletir. Convite a habitar o presente- lembram-me de Walter Benjamin. Está em pauta o encontro.
Campanha Pelo #B171: Ocupam a rua basicamente só em comícios; foco em carreatas; saudações nacionalistas duvidosas; discurso inflamado e odioso; promessa de aniquilação do(s) outro(s); abordam com câmeras e com voz alta quem discorda deles; xingamentos gratuitos; abordagem truculenta e intimidatória dos "vermelhos" que estão na rua na medida em que se aproximam vociferando impropérios mesmo sem ser abordados. Sinalizam usos pontuais e pragmáticos da cidade e operam por uma Política de condomínio: dentro dos carros, apartamentos, whatsapp. OS muros que separam uns dos outros não são enfrentados, mas reforçados. O próprio candidato debate política de dentro de casa e evita debates. Isso sinaliza uma prática política sempre a partir da reificação da propriedade privada e do próprio umbigo. Misturar-se com a diferença jamais. Uso pragmático e pontual da cidade para a política, sempre enviesado para o que lhes favorece (lembrar das placas de Marielle, intervenção urbana rapidamente destruída em POA por militantes de direita). É insuportável ver a cidade “suja” no cotidiano. Há dia, data e hora pra se fazer política legitimamente na cidade.
[Desenrolar reflexões depois, se possível]
Gostaria de relatar no dia de hoje estou feliz com a campanha que ocupou a última semana das eleições. Vejo uma retomada (ainda que tímida) de uma espécie de militância e micropolítica orgânica historicamente marcante na esquerda da America latina, que mistura afetividade com luta política aguerrida e descentralização das ações. Nota: Nunca coube no Estado essa característica rebelde Americana (não confundir com Tio Sam, nós somos América) e, quando se tentou fazer caber, perdemos. Respiro a retomada de uma de nossas caracterísitcas: a solidariedade. Não a demarcada por valores morais, mas aquela que se dá pela troca de olhares e a partilha conjunta de uma ação. Produzimos Comum, talvez diriam Dardot e Laval.
Deixa-me feliz que essa semana eu vi indícios da dissolução de uma terrível figura que se cristalizou nesses últimos anos: a do/da "militante chato" ou “o amigo/a militante”. Quem veio me chamar para as ruas, para eventos, para debate, para militar, não foram mais aquelas "figurinhas marcadas" das minhas redes de relações, mas pessoas que não traziam esse engajamento partidário e institucional mais sistemático em suas histórias de vida.
Feixes que anunciam as resistências.
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