Reflexões Natalinas

Vim passar esta parte final de festividades em minha cidade natal – Bagé – no interior do Rio Grande do Sul. Já fazia algum tempo que não aparecia por aqui: parte por estar realmente longe e ficando bem inviável de viajar pra cá fora das férias e parte por não ter mais tanta afinidade com a cidade. Ainda assim há muito tempo eu não vinha para cá para vivenciar este tipo de festividade em conjunto de um número maior de familiares ficando restrito a festas um pouco menos pomposas e longe destes. Este ano, porém, resolvi voltar a vivenciar um pouco mais este tipo de festividade e depois de experienciá-las eu trago um novo conjunto de pensamentos e ideias.

Posso parecer um pouco mórbido ou até mesmo triste em levantar esta reflexão mas pouco me importa pois sei que a mesma é parte do âmago do homem desde que o mesmo passou a planejar sua vida de maneira organizada e projetiva. A palavra que mais fez parte de mim nesta noite de natal foi tempo. Anterior à noite de natal frequentei 3 formaturas: a de meu irmão (terceiro ano), a de minha prima (oitava série) e a de um dos melhores amigos meu e de meu irmão (terceiro ano). Ao final da terceira formatura percebi que já não era mais eu a criancinha que fica brincando à parte da cerimônia correndo de um lado para o outro; percebi que já não era mais eu o adolescente emburrado de braços cruzados querendo que a cerimônia terminasse logo; já não era mais eu, tenso, acalorado, aguardando ser chamado para receber meu diploma. Era eu já sim, o adulto, aquele que está refletindo pensando no seu futuro profissional e apreciando a felicidade de uma nova geração e que hoje está crescendo e deixando de serem apenas jovens para ingressar também em um ambiente adulto. Esta transição de papéis me chamou atenção e ao mesmo tempo observei aqueles já adiantados a nós: os pais alegres com a formatura do filho ou os avós observando com muita alegria e serenidade o quão bonita é a formatura e estão seus netos e/ou afilhados. A roda da vida estava realmente girando naquele instante e isto ficou muito claro para mim. Antecedido por estes fatos, cheguei na sala onde sempre passava o natal ansioso por presentes, na dinda de minha mãe e casa de minha querida bisavó. Ela ainda mantinha o mesmo formato com a árvore ao canto direito repleta de presentes e sacolas. A mesa estava com o peru frio que nunca gostei muito e dos doces que eu sempre fazia questão de comer. Não fiquei mais de um lado para o outro com meus primos ou irmão, nem observando as árvores. Sentei e passei a conversar com meus primos, já também adultos estudando e/ou trabalhando. Não falei mais em presentes, nem em brinquedos. Falei da vida; de minha namorada, estudos, trabalho. Ví porém minha prima menor, de 5 anos, repetindo muito de meus comportamentos passados relacionados ao natal. Minha bisavó ficava prestigiada olhando a todos com serenidade e aproveitando o Natal com seus familiares. Já na hora da ceia fomos recebidos por 2 violeiros que vieram prestigiar meu avô e abençoar nossa casa no natal. Passamos a virada da noite sambando no meio da rua com o som destes 2 homens que pra mim sempre me foram estranhos mas que em pouco tempo já faziam parte de algo muito maior que uma simples relação de conhecer ou não alguém : estávamos unidos aproveitando esta data especial. É uma pena que nos centros urbanos de hoje esta seja uma prática quase que impossível por motivos que agora não é de meu interesse discriminar.

Estas vivências me deram condições de analisar esta transição de papéis que cumpri e tenho cumprido ao longo da minha vida. De criança que brincava de jipe no pátio da casa de meus avós para jovem estudante de ensino superior. O tempo não nos deixa escapar de maneira nenhuma não é mesmo? Este sentimento nostálgico e a consciência de tudo que passou não vai voltar do jeito que era me fez pensar muito se tenho aproveitado estes momentos de minha vida. O que estou construindo hoje para um bom futuro e a possibilidade intensa de felicidade ao longo de meus anos? Como não me arrepender e poder dizer no final das contas: valeu à pena quando pessoas ou oportunidades já tiverem ido embora ou passado? Ao mesmo tempo que fiquei preocupado e de certa maneira até mesmo triste fiquei també,m realizado. Deparei-me novamente com uma das belezas do ser humano que é desvendar os mistérios dessa vida finita e como é bonito o seu passar e suas fases.

Final de Semestre universitário

Se fosse perguntado para mim algumas semanas atrás "Como estão as coisas?" certamente a resposta seria "Final de semestre". Nem iria perder tempo formulando uma frase. Meus olhos, expressão e respiração em tom de desabafo logo tornariam estas duas palavras altamente compreensíveis de maneira a passar minha mensagem. É de assustar a quantidade de estudantes que andam pela UFSC no final do semestre arrancando seus cabelos, preocupados com suas notas, trabalhos, disciplinas, estágios e tudo mais. É uma loucura coletiva que passa dos limites do "normal" e passa a se tornar algo bizarro. O pior é que já está tão enraizado que quando você fala que está tendo dificuldades no final do semestre o que recebe de respostas é um tapinha nas costas com uma risadinha, confortando (ou não) dizendo "pois é, final de semestre é assim mesmo. foda. Bom vou lá terminar (insira trabalho aqui)". O mesmo fenômeno ocorre com os professores que também sentem a sobrecarga de seus trabalhos e orbigações para com o ensino e a pesquisa universitária. Quem sofre com isso, claro, é o estudante.

Poderíamos ficar aqui divagando muito tempo sobre o absurdo que é, o sofrimento, a angústia e tudo mais. Não quero desmerecer as emoções e o estado de saúde mental dos estudantes de maneira alguma mas gostaria de levar este pequeno diálogo um pouco mais a fundo, que tem a ver com a estruturação de nossos currículos e a ótica vigente dentro da universidade à respeito de uma graduação de "qualidade".

Veja eu por exemplo. Projetinho de futuro profissional na área da saúde. Mas que profissional de saúde vou me tornar sendo que durante minha graduação eu próprio sofro um adoecimento severo e estressante? Que condições de trabalho são impostas para nós estudantes e professores? Meu curso é integral e mal deixa espaço com todas suas atividades para que eu possa praticar com a consciência limpa um esporte 3 ou 5 vezes por semana, uma língua adicional, atividades de militância estudantil e grupos de estudo. Na verdade mal posso ler um livro que me interessa (e a maioria é de psicologia!) pois não tenho tempo e certamente sou invadido por um sentimento de culpa quando me pego estudando Marx quando na verdade tenho uma prova de estatística para calcular a normal de um gráfico no outro dia. É justo sentir-se culpado com isso? Pior ainda é ter de abster temporariamente de atividades que me fazem bem para ter que colocar os estudos (inúteis) em dia ou fazer aquele trabalho sem sentido nenhum e que no próximo semestre já não vai fazer mais sentido algum pra mim. Além disso deparar-se diariamente com uma grade curricular que não contempla em grande parte a realidade de vida do brasileiro, bem como professores com opiniões que chegam ao mais alto grau de conservadorismo discursando mil teorias abstratas também em nada contribui para o bem estar aqui dentro e durante o semestre. Passa a pancada, vêm as férias, e  a gente começa a apanhar de novo.
Novamente, isto é puramente sintomático. Poderíamos ficar aqui por boas horas colocando a culpa na nossa graduação ou reclamando de como a vida é dura neste aspecto. Mas se olharmos um pouco mais a fundo podemos ver que estes aspectos (uma grade curricular angustiante, aulas inúteis e sem sentido, trabalhos excessivos) são consequências de uma ótica de funcionamento na universidade que es´t aatrelada a um pensamento produtivista, pragmático e dotada de uma lógica, como diria Paulo Freire: bancária.

A noção que se tem de uma graduação com qualidade está vinculada ao quanto você sai sabendo, quantas horas aula você tem, que artigos publicou (independente da qualidade deles), qual é seu IAA, etc... Esta é uma lógica geral, vigente na maioria das nossas instituições que estão mais preocupadas com nosso rendimento em medições e números do que de produção autônoma de um conhecimento de qualidade. E isto permeia nossas próprias noções em relação a nossa própria pessoa de maneira que nos submetamos a este funcionamento a ponto de ficarmos aos prantos no final de semestre, preocupados e ansiosos. O alto número de trabalhos, as provas intemrináveis, o "depósito" de conteúdo que em grande parte se tenta fazer na cabeça do estudante... Todos são sintomas de uma noção geral que se tem do que deve ser uma boa graduação. Mas mesmo estando todos tristes, chateados, estressados e tensos no final do semestre é preciso pensar também porque esta submissão. Que relações de poder estão em funcionamento para que os estudantes se submetam a tudo isto e que igualmente os professores se submetam a tudo isto? Seria realmente necessário um caminho tão penoso pela recompensa de um diploma ou esta trilha de aprendizagem e conhecimento poderia acontecer de maneiras muito mais prazerosas, emancipadores e realmente formadoras de um conhecimento pautada na e para a atuação profissional?

É uma questão difícil e que certamente entra em jogo interesses vinculados a manutenção de um funcionamento de nossa sociedade. Mas são desafios a serem superados.
Um bom final de semestre a todos!


ps: praticamente nada do que escrevi aqui é fruto de reflexões em sala de aula. Apenas da indignação que se passa dentro dela,  que fique bem claro.

Desabafo

Cansei. Estou terminando meu terceiro semestre na UFSC em Psicologia e os níveis de estress que o curso têm me proporcionado (um curso integral e com muitos créditos a serem cumpridos) estão além da conta do normal.O que penso à respeito disso? Bom, como ser um profissional da saúde se nem saudável eu consigo ser na minha graduação?  Felizmente estou vivenciando coisas muito boas em consonância: um ótimo relacionamento e uma emancipação sem precedentes dentro do Movimento Estudantil.
O aspecto mais sintomático e agravante dentro da minha sala de aula é a distância do que tenho estudado e visto da vida lá fora. Vejo meu Brasil por aí: televisão, jornais, artigos, filmes e histórias. Pelo meu dia-a-dia. Quero trabalhar nele; sinto ele e quero mecher com ele. Mas ao mesmo tempo passo extensivas horas sentado em uma cadeira quadrada, em uma sala quadrada ouvindo um professor tão quadrado quanto falando. E ele fala. Fala... escreve, fala e me passa mais um pouco pra fazer. Mas são em sua maioria (há excessões, felizmente) conteúdos abstratos. O fio intelectual que ele tenta me passar não se torna um conhecimento efetivo e vivo pois não o vejo nem os sinto na prática! Talvez eles se adequem a um mundo metafísico ou a uma outra realidade talvez... mas tenho adquirido pouqíssimas ferramentas em sala de aula para uma análise potente e preparação realmente profissional para lidar com as demandas da sociedade lá fora.

Gosto do meu País. Quero mudá-lo e estudá-lo e é muito frustrante estar dentro de uma Universidade pública que se afasta diariamente da sociedade brasileira e passa a habitar um mundo intelectualóide ou alienado, muito longe do que anda acontecendo politicamente em nosso país.
QUando entrei, achei que ela me formaria cidadão. Quem tem feito isos é o movimento estudantil, só.

Têm sido difícil estar aqui dentro as vezes. É quase uma casa de loucos. O mundo acontecendo a mil lá fora e nós estamos discutindo e frealizando pesquisas em grande parte sem sentido nenhum em relação a uma emancipação nacional e produção autônoma. Mas claro, não hei de chorar, nem lamentar-se. O que nos resta a fazer aqui dentro é a luta. Adelante!

Sobre o diálogo

Faz tempo que não escrevo. Enfim sem chororo.

Em época de eleições e cercado de tantos debates e argumentação é inevitável que eu não percebesse novamente o quanto é importante o diálogo maduro entre as pessoas na formulação e constante aprimoramento de conhecimento e de suas ferramentas de análise do mundo. É através do contraponto e do conflito (não em um sentido maléfico, mas dialético) que torna-se possível a formulação de um novo conceito ou ideia, dessa vez mais trabalhado e dotado de seu histórico de construção. Recentemente conheci a lógica do terceiro incluído (a qual não cabe discorrer muito aqui mas sugiro que se pesquise) e de fato, Marx estava certo desde quando nos trouxe a tese, antitese e a síntese.

Porém não vim aqui escrever para falar isso, algo que certamente já está batido em nossas vidas. Vim aqui pois percebo o quanto o diálogo ainda é encarado hoje com desdém, medo ou como algo ruim. O conflito ainda é visto como algo negativo e não construtivo, é necessário "respeitarmos a opinião um do outro" assim cada um "fica na sua" com suas ideias e seus conceitos de mundo e não precisamos mais discutir sobre nada! Minha indagação (e estou totalmente baseado em minhas percepções, talvez para outros isso não seja um fato real em seu meio de convívio) é do por que, hoje, em pleno século XXI se perpetua o comportamento de esquivar-se da discussão? Posso ir além e questionar a quem/ao que serve este comportamento de que a discussão de assuntos e temas relevantes é ruim dado sua força construtiva e renovadora de conhecimento. É perceptível o quanto esta ótica deixa o indivíduo estagnado e consequentemente suas possibilidades de emancipação se tornam reduzidas. Ao se colocar em nossas mentes que o debate, a discussão é ruim e causa problemas paramos de conversar sobre as coisas sob o pretexto de "respeito" a opinião do outro e deixamos de elaborar críticas mais profundas e coesas sobre determinados temas. É evidente que o respeito é necessário mas é justamente por este respeito que se deve colocar as discordâncias em jogo para que se possa questionar não só o que o outro têm enxergado e refletido mas também o que eu próprio tenho articulado em minha cabeça. A não-discussão só leva a um engessamento de discursos e práticas. Nada pode ser construído a níveis superiores no âmbito individual de análise mas sim através das sucessões de contrapontos e reformulações sobre determinado conhecimento, levando ao acúmulo e a um entendimento maior e real diante de determinados fenômenos. É claro, porém, que é proveitoso a certa camada social que a discussão não seja fomentada nas pessoas pois o ato do debate e do diálogo não só eleva as potencialidades de cada um mas também é provável que leve ao vínculo e a coletividade e portanto, perpetua-se a idéia da discussão como algo ruim, chato, que as pessoas se esquivam.

É evidente que é necessário também maturidade para que a discussão seja conduzida  e enxergada como algo transformador na sua maneira de pensar e na do outro, de maneira que leve a uma construção e não simples oposição de ideias que pode levar apenas a um desconforto e sensação de que nada tenha sido mudado (embora até tenha em determinados níveis de mudança de pensar). Quando menciono "maturidade" refiro a clareza de enxergar estas mudanças em sí e no outro através do diálogo de maneira que saiamos do nível de "convencimento", "copitação", "coersão", etc... para um nível aonde possamos enxergar as possibilidades de análise e  mudança que a conversa pode proporcionar. É o caso dos direitistas e esquerdistas discutindo seu candidato colocando artigos tendenciosos e argumentos de fontes tendenciosas em seus discursos, elencando qualidades do seu e defeitos do outro visando um convencimento ao invés de junção de um material sério para uma análise de conjuntura tanto dos partidos quanto da realidade eleitoral de nosso país. É enxergando as possibilidades de transformação e emancipação que se joga uma luz maior diante da conversa e ela pode tomar rumos mais "maduros" e tornar possível uma emancipação real de se pensar e analisar nossa realidade.

Portanto o diálogo é bom e construtivo. (altas conclusão não? hehe)

Poesia

 Eaí moçada!
Bom estou sem escrever faz um tempinho. Começaram as aulas e tenho escrito muuuuitas coisas mas estão todas relacionadas ao meu âmbito acadêmico (pra variar).
Mas em breve trarei outras reflexões aqui...
Por hora deixo este poema, de Fernando Pessoa ao qual muito me identifico.


PASSAR A LIMPO a Matéria
Repor no seu lugar as cousas que os homens desarrumaram
Por não perceberem para que serviam
Endireitar, como uma boa dona de casa da Realidade,
As cortinas nas janelas da Sensação
E os capachos às portas da Percepção
Varrer os quartos da observação
E limpar o pó das ideias simples...
Eis a minha vida, verso a verso.



...

Sobre o vínculo do estudo e da transformação

         Finalmente reiniciaram-se as aulas! É bom saber que neste semestre terei contato com 2 excelentes professores que recebem elogios pelos corredores pela sua didática e compromisso. Logo de início tive contato com um texto do Paulo Freire que trata sobre o estudo. Ele  coloca: “O Ato de estudar é uma maneira de posicionar-se perante o mundo”. Enquanto lia e exercia minha crítica e formulação de conhecimento iniciei uma reflexão sobre algo que eu me pego pensando frequentemente: estou estudando pra quê? Por quê estou aqui querendo um diploma de psicologia? O que vou fazer quando me formar? Quais serão meus compromissos reais como profissional de ensino superior com meu país e como vou contribuir para sua melhora? Decidi então escrever um pouco sobre isto.

       Entendo que como parte da minoria intelectual de ensino superior no meu país assumo uma posição privilegiada mas ao mesmo tempo dotada de uma responsabilidade para com os outros muito superior do que achava. Ao formar-me psicólogo em uma instituição pública de ensino assumo também o compromisso da mudança e do respaldo a sociedade e seu aprimoramento através  da ferramenta que estou (espero) aprendendo a manejar e a lapidar de forma que fique perfeita: o conhecimento. O que farei com o que tenho aprendido no âmbito universitário? De que forma vou utilizar o conhecimento como uma nova ferramenta tanto de produção quanto construção contínua de uma realidade mais coerente, justa e positiva? Me assusta que poucos dos meus professores tocaram isto em aula. Tenho assimilado muito conteúdo mas pouco tenho recebido orientações de como transformar toda esta informação em algo útil e produtivo cabendo a mim e minhas experiências apenas (salvo exceções) tentar tornar todas estas ideias mais coesas e coerentes com a realidade nacional que vivemos. O fato é que na instituição que me encontro pouco têm se trabalhado a crítica em sala de aula. Aprendemos muito conteudo mas pouco dividimos ou aprendemos a dividir o mesmo de uma maneira construtiva e emancipadora. Aprendemos facilmente a vestirmos a capa de um clínico ou profissional psicólogo detentor do conhecimento e da verdade que pode facilmente fechar-se em um ativismo com pouco ou nenhum compromisso com a mudança e a liberdade real dos indivíduos que confiam e confiarão em nossas palavras ou em nossa produção científica e acadêmica. Pouco aprendemos a utilizar nosso privilégio de ensino superior como inseparável da responsabilidade de proporcionar condições efetivas e concretas para a mudança de nosso país. É uma pena que esta seja a realidade que percebo hoje no ensino superior. Felizmente ainda assim aprendi a ter este tipo de valor e noção mínima de responsável como futuro profissional. Não foi na sala de aula (com exceção de professores como os que mencionei inicialmente no texto) mas sim movimentando-me. Aprendi com meus colegas, estes igualmente insatisfeitos com as condições reais e concretas da nossa formação que em conjunto conseguiram e ainda conseguem me adicionar muitas coisas e em especial a desenvolver um grande senso e olhar crítico para o real e como o mesmo se dá hoje em dia , condição essencial para que se possa desenvolver um trabalho ou pesquisa emancipadora de fato daqueles que poderão desfruta-la direta ou indiretamente.

    Diante disto tudo aprendi de maneira reforçadora aquilo que sempre acreditei: somos responsáveis pela nossa história e pela mudança. É o/a homem/mulher nas suas condições reais e concretas, com aquilo que tem disponível que move o mundo e o transforma com seu trabalho e esforço (seja ele físico ou intelectual um não anula muito menos é superior que o outro), cria, desconstrói e aprimora. Não é o tempo, não é a educação, não é a política que vai mudar tudo. Somos nós, através de nossos posicionamentos e das nossas atitudes que vamos construir e comandar coisas tal como citei anteriormente pois são fruto da ação humana e de seu posicionamento diante da realidade que se têm e que se almeja ter. É pensando assim que sigo minha graduação, tendo sempre o norte e a responsabilidade de utilizar meu conhecimento para interferir diretamente na realidade e alterá-la, sempre para o melhor e sempre para o bem-estar.

Coração Valente: Caráter e semelhanças com hoje.

Assisti pela terceira ou quarta vez o clássico filme “Coração Valente” (Braveheart) com Mel Gibson interpretando William Wallace, herói da guerra da independência Escocesa. A razão de eu gostar muito desse filme (embora seja em certa parte exagerado, mas que filme ou romance não o é?) é a mensagem que pego dele. Ao ver a trajetória de vida do personagem no filme percebo como um homem deve levar sua vida e concretizar seus sonhos. Acredito que a maioria das pessoas que ler isto provavelmente já assistiu o filme em algum momento de sua vida então irei dar uma resumida para relembrar de alguns fatos do filme. Lembrando que estou falando do FILME e não do ser Wallace baseado na história!

William Wallace era filho de um camponês escocês. Ainda jovem viu a tentativa de seu pai de organizar alguns dos clãs para lutar contra a opressão inglesa na escócia do rei longshancks, dito como um dos mais cruéis reis que sentaram naquele trono. O jovem Wallace porém frustra-se ao receber tempo depois a notícia da morte de seu pai e de seu irmão mais velho que foram feridos em combate contra os ingleses. Encontra também em uma casa diversos dos nobres escoceses que foram traídos por Longshancks em um suposto tratado de paz, todos enforcados. Mulheres e crianças inclusos. Logo cedo em sua vida Wallace acaba tendo de lidar com a perda daqueles que mais amava. Durante o dia após ver o corpo de seu pai e irmão comparece ao enterro de ambos. Enquanto todos saíam após as preces o pequeno Wallace ficou só, chorando vendo o coveiro enterrar sua família. Uma jovem garota então, entrega a ele uma flor, um cardo (thistle) flor símbolo da Escócia. Wallace é então adotado por seu tio que aparece a noite para ver o verdadeiro enterro dos pais de Wallace: com corpos queimados e gaitas escocesas, proibidas pelo governo inglês e que quando eram feitas deveriam ser as escondidas. O tio de Wallace o leva consigo e o ensina diveras línguas e a arte do combate. Wallace retorna anos depois, adulto e tenta retomar sua vida como fazendeiro. Reencontra Murien, a garota que havia lhe dado a flor (a qual ele devolve a ela depois) e ambos vivem um romance cheio de amor e companheirismo. Casam-se as escondidas para evitar a Prima Nocte direito que os nobres ingleses detinham sobre os camponeses escoceses que se tratava de que quando houvesse um casamento a primeira noite da noiva deveria ser com o nobre. Após algum tempo ocorre uma tentativa de abuso de Murien por parte de soldados ingleses e devido ao atrito a mulher de Wallace é capturada. Como Wallace havia agredido soldados o nobre regente da terra opta por assassinar Murien em público cortando sua garganta visando atrair o fugitivo Wallace. Isto funciona, Wallace retorna então em fúria e com a ajuda de seus antigos amigos que apoiavam a causa de seu pai mata o nobre da mesma maneira que o mesmo havia matado sua mulher e toma as terras para seu povo. Guarda o lenço que sua amada havia feito para ele o qual o acompanharia até o fim de sua vida. Daí em diante Wallace passa a receber o apoio do povo escocês e corre atrás do sonho quase utópico na época: o da liberdade escocesa da repressão inglesa e a formação de um país independente. Ao longo de sua jornada Wallace acaba tendo que passar a negociar com os nobres escoceses que engalfinhados em jogos políticos e poder (e sem nenhum interesse pelo povo camponês... humm, isso não nos remete a alguma coisa atualmente? Parece que a história gosta de se repetir...) abandonam a causa revolucionária subornados pelo rei e traem Wallace no campo de batalha. Pasmo com a atitude de seus próprios compatriotas (se é que vermes como a nobreza colocada no filme pode ser dita “patriota”) Wallace mata dois dos nobres haviam traído a causa. Os exércitos de Wallace e escoceses tomam a cidade de York sozinhos. Assustado, o rei da inglaterra Longshancks pretende então matar Wallace e cessar as rebeliões escocesas e para isso utiliza-se de sua nora, a princesa da França. Porém, a princesa acaba por apaixonar-se pelo revolucionário escocês (hah) e passa a ajudá-lo. Finalmente o rei decide por comprar (novamente) os nobres escoceses os quais enganam novamente Wallace prometendo ajudar a causa escocesa deliberdade e capturam Wallace, entregando-o para a Inglaterra. William Wallace passa por um julgamento ao qual se nega a pedir perdão e jurar lealdade ao rei e então é levado para sua sentença: Wallace é então espancado, enforcado, esticado, têm suas tripas puxadas para fora e, finalmente, é decapitado. Ao negar-se a pedir misericórdia diante da população inglesa e de seus executores, decide por gritar “LIBERDADE” e então, após ter suas tripas expostas dá seu último suspiro de vida. Em sua mão, está o lenço de Murien manchado do sangue das batalhas que wallace havia realizado. Enquanto o machado estava a cair em seu pescoço, Wallace sofre seu último delírio e então enxerga Murien em meio a multidão, junto aos seus dois maiores companheiros que assistem sua execução pois nada poderiam fazer em Londres. Wallace então sorri para Murien, que sorri de volta, felizes, pois poderiam juntar-se finalmente.

    O que me faz derramar lágrimas neste épico é a jornada de Wallace e como ele, ao adotar a posição real de HOMEM segue até o fim com seus ideais e mantém-se fiel até o fim naquilo que acreditava ser o certo. Mesmo que custasse sua vida. Inicialmente Wallace sofre duas perdas lastimáveis em sua vida, primeiro a de sua família e segundo de sua amada esposa todas pelas mãos da repressão inglesa. Mesmo diante de adversidades tão grandes em sua vida, sabendo que a mesma poderia simplesmente perder o sentido ele soube com seu espírito manter-se em pé e mais que isso, vislumbrar o horizonte, manter-se fiel ao seu sonho patriota de liberdade. Mesmo com estas perdas Wallace soube equilibrar-se e seguir em frente com sua vida e sua utopia e isso é característica essencial daqueles grandes na vida. Apesar das lágrimas e da tristeza, Wallace ergue a cabeça e mantém-se fiel a levar a justiça e a liberdade ao seu povo para que tais atos não mais se repitam e ela possa também ficar em paz, livre dentro de suas terras junto ao povo escocês. Quando viu-se cercado de nobres que mais queriam comprá-lo ou usar de seu prestígio com o povo para a ascensão de famílias ao poder sentiu nojo. As vitórias que havia conseguido com seu sangue e o sangue de camponeses e homens que queriam a liberdade estavam sendo usadas como moeda de troca e jogos de poder. Tentou em vão convencer as cobras esguias da nobreza de que a união era a única saída, e os nobres, mais preocupados em manterem sua posição e recursos materiais negaram-se e traíram não só Wallace mas a causa escocesa duas vezes. Mesmo após tantas traições e uma derrota horrenda em batalha, Wallace ergueu-se novamente graças a seu espírito e grandiosidade. Novamente enfrentando tais adversidades manteve-se fiel ao seu sonho de liberdade e a causa escocesa pois sabia que sem a mesma a vida não teria sentido e portanto, mais valeria morrer tentando aquilo do que manter-se submisso ao que mais odiava. Chegou a caçar dois dos nobres que haviam traído o povo escocês. Eventualmente sofreu a segunda traição aonde em suposto tratado de união entre os clãs da nobreza e o exército escocês foi capturado e entregue aos ingleses. Defendeu a causa até seu último momento aonde negou-se pedir misericórdia ou jurar lealdade a aqueles que sempre oprimiram seu povo. Ainda preso, Wallace sente-se com medo da morte e apela para que Murien lhe dê forças para passar por aquilo. Encarando a morte de frente, Wallace então morre torturado levando até seu último suspiro o grito de liberdade escocês e no seu pensamento carrega o amor que recebeu de sua mulher, eventualmente unindo-se a ela na morte e deixando seu legado nas mãos de Robert the Bruce, que daria continuidade a luta e eventualmente tornaria-se Rei da Escócia.

    A capacidade essencial de um caráter verdadeiro é esta que Wallace encarna perfeitamente no filme: manter-se fiel a aquilo que acreditamos e vemos como certo. Mesmo diante de tentativas de compra, mesmo diante de adversidades e mesmo diante do medo ou até da morte seguir aquilo que o coração nos diz que é o certo. Eis aí a chave essencial. Não enxergo um homem como homem sem que o mesmo exerça seu caráter. A capacidade de reerguer-se e novamente voltar a batalha também é admirável no personagem e essencial na vida. Apesar das derrotas e das perdas irreparáveis ainda assim houve força para seguir com sua causa verdadeira até o fim. Que homem pode ser considerado homem se fraqueja diante das perdas ou lamenta-se eternamente diante da perda ou do fracasso? Não, olhar para frente e concretizar seu sonho, fazer suas metas acontecerem não importa o que. Não obstante, o personagem faz uso de sua força não para submeter aqueles na sua volta mas sim para emancipá-los e protegê-los. Não visa a submissão nem o poder: apenas o bem daqueles que compartilham de sua mesma utopia. Disposto a dar sua vida por aquilo que acreditava ser o certo e encarando as dificuldades de sua vida e na batalha com o peito aberto e com a cabeça erguida utilizou-se da força do amor e de seu coração para fazer de tudo para concretizar aquilo que era sua utopia máxima, e mesmo sem vê-la ocorreu posteriormente graças aos seus esforços. Foi fiel a sí mesmo e portanto morreu feliz mesmo em tortura.

    Me surpreende que quando se fala coisas de confiança, caráter, honra ou fidelidade se enxerga tudo como “um ideal” ou “utópico”. Tamanha nossa organização hoje como sociedade supostamente moderníssima que adotar posturas reais de comprometimento com um bem maior, envolvendo sacrifício próprio ou pelo outro torna-se extremamente suspeito ou até alienígena! Realmente chegamos ao ponto de se perder isto? Outra coisa que eu consigo “linkar” do filme é como algumas coisas se repetem ainda hoje. Quando se tenta a revolução, quando se tenta a mudança e quando se tenta a verdadeira liberdade ocorrem coisas exatamente idênticas as do filme: pessoas (ou classes) com privilégios, com medo de perdê-los e chegar a igualdade passam a defender ideais muito além daqueles que a maioria deseja apenas para manter aquilo que têm. Pasmo ainda com tamanha convicção que adota-se determinadas posturas para se manter o tal do “status quo” funcionando, afinal, “está tudo bem para mim”. Traição, quebra de valores próprios, jogos e poder... tudo para manter seus privilégios e posição que normalmente, é sustentada por aqueles que tentam libertarem-se. Mas aqueles sem dignidade nenhuma como ser, mantém a mão fechada para manterem sua posição (isso se vê até mesmo em relacionamentos íntimos não? Um quer libertar-se e outro não deixa, só para manter a posição). É interessante que mesmo com toda a história ainda assim vivemos pela dominação daquele que supostamente é o mais forte. Hoje porém o controle torna-se muito mais sutil do que pela utilização da “Prima Nocte” por exemplo. A sutilidade encontra-se em nossas cabeças. Nossas ideias, aquilo que achamos que vêm do nosso mais íntimo acabam por serem acorrentadas por maneiras tendenciosas de se manter as coisas como estão, pois é interesse dos poucos mudá-las. A nobreza saiu, mas a repressão pelos outros se mantém.

Coração Valente ensinou-me muito sobre as maneiras que devemos conduzir nossas vidas e especialmente, como exercer de verdade um caráter bom e positivo, não para sí mas também como ferramente para mudar as coisas que estão em sua volta e tornar-me completo como ser.

Sobre a loucura

 Bom olá visitante!
Com algumas experiências que tive esse semestre, especificamente na disciplina Psicologia Diferencial/Esquizoanálise tive a oportunidade de dar início a um processo de reflexão sobre a loucura e o que é ser louco. Após assistir o filme "Um estranho no ninho" fui tomado pela ânisa de refletir e elaborar alguma coisa sobre a loucura. O resultado foi este texto de 6 páginas. Sim, eu sei, é longo e isso é um blog. Mas se você tiver interesse ou paciência para ler garanto que de nada é em vão :P
O texto falará por si só! Ele está dividido em uma parte introdutória da minha reflexão, seguido por um resgate histórico da loucura e a maneira como se lidava com ela desde a Grécia até os dias de hoje e por fim faço uso da psicanálise de maneira breve e provavelmente limitada em termos de conceitos para mostrar o quanto a loucura não pode ser vista como algo à parte, mas que faz parte de nós.

B|om, se você não estiver afim de ler, deixo também um pequeno pensamento escrito pelo meu pai, que vai muito de encontro com o que coloquei neste texto que fiz. Espero que a leitura tenha ajudado em qualquer tipo de reflexão ou pensamento, este é o intuito! Um abração pro meu pai também! :)

Link do Texto:

Sobre a Loucura.doc


 Reflexão por meu pai:

"a força do real, filho, provém do que existe de mais sagrado na humanidade...
o eu real...
que se comunica(que se manifesta), através da consciência(pura e ingênua)...
pela serenidade mental, pela paz interior, pela amizade sincera, pelo amor verdadeiro, pela compaixão coletiva, pela solidariedade espiritual(universal)....

o eu imaginário...
se manifesta...
pela força incomensurável...
da razão humana...
destemida...
descrente...
despojada...
superficial...
artificial...
individual... enfim...
construída e desenvolvida pela cultura judaíco-cristã, para abafar o eu real - emocional, interior e espiritual(universal) -
(a quem somente os iluminados ou habilitados poderão usufruí-la)
ela impede...
com inacreditável habilidade e competência...e alguns séculos de experiência...
o elo puro, a comunhão, entre o que pensamos e o que sentimos...

eis a incrédula contradição de uma já desgastada ordem humana e psíquica(familiar, social e financeira)...
ao promover... a um só tempo...
uma extraordinária evolução de sua inteligência racional...
dialéticamente interligada a sua incompreensível e incontestável decadência emocional, afetiva e espiritual(universal)...
naturalmente...
essa ordem psíquicamente racionalista...
desconfia...ainda hoje...
da própria psicologia enquanto ciência das emoções...
e o papel fundamental dos jovens psicólogos...
na construção de um mundo melhor...
mais sóbrio...
mais justo...
mais equilibrado...
mais alegre...
mais feliz....
e não apenas como melhoradores de planilhas...
de vendas ou de satisfação...de clientes ou empregados.... "

Auto-biografia em cinco capítulos

Bom, fiquei um tempo sem postar mas não porque parei de escrever, pelo contrário, acabei escrevendo de maneira paralela sobre 3 assuntos diferentes, mas ainda não os coloquei aqui. Por isso, decidi deixar aqui este pequeno texto que achei na internet: Auto-biografia em 5 capítulos. Apesar de simples a mensagem é muito boa. Sou fã de mensagens curtas mas impactantes ou que nos façam refletir.

Autobiografia em 5 capítulos

1) Ando pela rua . Há um buraco fundo na calçada . Eu caio
Estou perdido... sem esperança. Não é culpa minha.
Levo muito tempo para encontrar a saída.
 
2) Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada
Mas finjo não vê-lo. Caio nele de novo.
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar. Mas não é culpa minha.
Ainda assim levo um tempão para sair.
 
3) Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada. Vejo que ele ali está
Ainda assim caio... é um hábito. Meus olhos se abrem. Sei onde estou
É minha culpa. Saio imediatamente.
 
4) Ando pela mesma rua. Há um buraco fundo na calçada.
Dou a volta.
 
5) Ando por outra rua.
 
Está no livro "O livro tibetano do viver e do morrer"de Sogyal Rinpoche 
Eai, gostaram? :)
Bom, queria também falar sobre um grande homem que é o Gustavo. Recentemente recebi a maravilhosa proposta deste meu amigo para intercalarmos nossos textos e refletirmos juntos sobre ceertos aspectos, em especial aos temas de saúde e também da arte visto que são assuntos que temos em comum dada as graduações de gustavo e a minha, mais o projeto dos terapeutas da alegria ao qual fazemos parte. Ao comentar sobre o que escrevi em "O que te faz levantar e viver a vida" Gustavo fez uma outra proposta, a qual pasmei ao ler seu texto, tinha esquecido! Não falei em momento algum sobre nossas amizades e o papel que elas tem em assegurar-me toda uma existência de lutas e conquistas, quedas e superação. Um dos meus escritos paralelos é justamente então sobre amizade, tema ao qual pensei mais em especial devido a proposta de Gustavo. Deixo aqui o blog do Gustavo para que se possa contemplar experiências muito bacanas e entender os diálogos que poderemos fazer! Valeu Gustavo!
http://wellnessclub.com.br/rede/mente/forca-das-amizades


Adios!

Coletivo Acadêmico Interdisciplinar da Saúde e II Círculo da Saúde



(post longo e desinterssante para não acadêmicos)


Antes de mais nada quero dizer que me sinto realizado e cada dia mais confiante na minha formação universitária. Não necessariamente pelos conteúdos que tenho visto em sala de aula neste final de semestre (que se resume a seminários apresentados por meus colegas, felizmente, alguns muito bons) mas sim por parte dos movimentos que tenho ajudado a construir e têm me construído. O Coletivo Acadêmico Interdisciplinar de Saúde (CAIS) é um deles.

Houve um momento em que a gestão passada do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSC, a Boas Novas, identificou um sério problema nos cursos da saúde: a discussão sobre saúde pública, humanização e SUS era escassa. Mesmo com muitos dos cursos das áreas da saúde já inclusos na política do Pró-Saúde (calouros que lerem isso, irei repetir sobre Pró-Saúde até grudar na cabeça de vocês), que foca um novo currículo e disciplinas que englobem a questão da saúde a discussão era pouca ou nula. O debate foi chamado e o auditório do CTC quase ficou cheio de estudantes interessados no tema saúde pública e universidade. Eis que pela iniciativa de alguns estudantes mais os palestrantes daquela data, surge a ideia e provável necessidade de se formar um grupo de formação, composto pelos Centros Acadêmicos dos cursos envolvidos com a saúde (Enfermagem, Nutrição, Psicologia, Medicina, Farmácia, Odontologia, Educação Física e Serviço Social) para que pudessem abordar melhor a questão do SUS e seus valores não só para os membros mas também para a comunidade universitária e relacionada ao tema através da realização de atividades que englobassem o assunto. Fui copitado a este movimento ainda quando estava na 1ª fase do curso pela maior militante da psicologia até hoje já vista. Dado meu interesse na psicologia como área clínica e de saúde mental não pensei duas vezes em me juntar a tal grupo. Logo na primeira reunião fui rapidamente acolhido pelos membros, que através de dinâmicas e uma forma totalmente diferente de conduzir reuniões de movimento estudantil (não tão rígida e engessada, mas suave e contínua de acordo com os membros e seu respeito) me colocaram no clima do CAIS. Não sou muito adepto deste tipo de reunião, confesso, ainda prefiro as coisas ordeiras e quadradas de vez em quando. Mas a sensação dentro do grupo era e é outra. O espaço do CAIS acabou por se tornar um dos espaços mais ricos do meu primeiro semestre na UFSC. As discussões iam desde as concepções de saúde de cada membro e comparação do currículo dos cursos da saúde até o SUS e sua abordagem de atenção primária. Era um prazer quase sexual, como dizia um antigo professor meu do cursinho, estar naquele espaço discutindo com futuros médicos, futuros psicólogos, futuros farmaceuticos... saúde, e um modelo transdisciplinar de se enxergar não apenas o tratamento mas também a promoção de saúde e principalmente a atuação na prevenção da doença. Como espaço de movimento estudantil e com a pauta riquíssima que a discussão de uma atenção primária nos traz foi sempre inevitável que chegássemos também na discussão de como nossa sociedade atual se organiza e como ela, atuando da maneira que está hoje, dificulta o processo da prevenção e da garantia de direitos básicos de existência para todos. Não satisfeito, o grupo do CAIS também realizava uma vez por semana reuniões de articulação, visando pensar atividades para estender nossas discussões sobre saúde para fora do nosso espaço do coletivo e trazer a reflexão dentro da universidade sobre seu papel formador e compromisso, no caso dos cursos de saúde, com a realidade da necessidade de se pensar saúde pública e SUS. Tendo este foco, o CAIS conseguiu no final de 2009.2 realizar o I Círculo de Saúde. A proposta do círculo era discutir o conceito de saúde com as pessoas presentes, visando ampliar e enriquecer tanto as nossas concepções de saúde quanto a dos outros. Foi feito um vídeo entrevistando discentes, estudantes e comunidade aonde eram indagados por perguntas que os faziam dividir a sua concepção de saúde. No encontro, como sempre, para dar o “clima de CAIS” foi realizada uma intervenção artística com uma das duplas mais excitantes da UFSC, o Poeta Cezinha e Pedro com sua maravilhosa sanfona. Após a intervenção foi exibido então o vídeo editado (com muito carinho e companheirismo dos membros por sinal) que atuou como disparador da discussão. Ainda em clima de CAIS, após o vídeo foram convidados todos os presentes a irem até a grama em frente aos CA's do CCS, e divididos em dois grupos, sentados em roda na grama, discutir o vídeo e o que era saúde para o grupo. A proposta final era a de uma apresentação artística, por parte do grupo resumindo a concepção elaborada de saúde. Um dos grupos optou por teatro; o outro; pela opção de expor através de desenhos os conceitos; e não pude deixar de maravilhar-me com o que assisti e ouvi nestes dois dias de círculo de saúde. No fim, todos fizeram desenhos com sua concepção de CAIS e saúde e colamos nas paredes do prédio do CCS (desenhos estes que ficaram por um bom tempo lá colados, por um milagre inexplicável ou talvez força do CAIS). Encerrou-se então o semestre de 2009.2 com grande sucesso para o CAIS e com muito conhecimento que pude adquirir com o grupo.

Reiniciamos então o semestre letivo, desta vez em 2010.1. O CAIS sofreu com a perda de alguns de seus membros iniciais e o grupo modificou-se: ainda assim, manteve-se em essência. Sempre pensativo e propositivo o coletivo tratou logo de adaptar-se com sua mais nova formação e reiniciar o vapor das discussões sobre saúde que sempre pairaram em 2009. Não demorou muito tempo para que o CAIS voltasse com suas riquíssimas discussões sobre saúde (grande maioria, senão todas, muito superiores do que a maior parte das aulas que tive neste semestre em termos de gerar conhecimento para mim) contando agora com novos membros e a participação em alguns encontros de formação de pessoas já formadas e atuantes nas áreas da saúde e atenção básica. Com as discussões de formação e articulação foi então encaminhado que ocorreria neste final de semestre o II Círculo de Saúde, visando a superação do primeiro encontro. Eis que tal objetivo não foi apenas visionário mas mais uma vez tornou-se concreto nas mãos dos estudantes. O encontro contou com a presença de mais de 50 pessoas dentre elas discentes renomados e especializados nas questões de saúde mental e saúde pública. O tema selecionado foi saúde mental do estudante, visando gerar um debate em cima das questões das condições reais de uma saúde mental estudantil englobando desde a estrutura universitária e o posicionamento dos docentes (em especial os de medicina) até a questão das grades curriculares e seus efeitos altamente maléficos em cima de uma rotina massante de estudos e embasada em relações de poder altamente difíceis de se romper. |Relações estas que foram em parte rompidas neste encontro do II círculo da saúde que foi realizado em uma das salas de capacitação do curso de enfermagem. Novamente, o “clima CAIS” não ficou de lado e todos sentaram-se em círculo: discentes e docentes, no chão, compartilhando nas mesmas canecas o chá oferecido pelo CAIS. Novamente optamos pela visualização de um vídeo (que dessa vez foi dividido em 3 partes) como disparador da discussão. No vídeo, houve a presença de professores, estudantes e técnicos administrativos comentando sua concepção sobre “saúde mental” e logo após as implicações que a universidade causa na sua própria saúde e na de seus colegas. A participação dos presentes foi em termos simples, maravilhosa. Professores e estudantes expuseram seus pontos de vista, debaterem e propuseram. Mais maravilhoso ainda foi estar presente em um espaço aonde a pauta não foi na linha “o mundo está uma merda, e agora?” mas sim no sentido “temos x, y e z. O que faremos HOJE, pra mudar isso?”. Devo sem medo ressaltar minha gratidão pela presença do professor do departamento de saúde pública Walter, que pela primeira vez me deu a chance de acreditar que o corpo discente não está perdido, mostrando clareza de que nem sempre a falta de um sucesso imediato é significado de fracasso mas sim sinal de uma construção contínua para o progresso de todo e qualquer movimento. A coordenadora de curso de Psicologia, infelizmente, cometeu mais uma vez o erro de criticar o CALPSi, coisa que os membros lá presentes não fizeram nem questão de responder, até porque a questão do Circuito Etílico da Psicologia, todos sabemos, mais promove saúde mental do estudante através da integração do que “alcoolismo” e uma visão deturpada de festas e bebidas para os calouros.

Em suma, jamais me arrependerei de um dia ter tomado a iniciativa de tornar-me parte do CAIS. Nem de ter doado parte do meu tempo e do que doarei para a realização de espaços de resistência e tomada de consciência para a realidade dentro da UFSC. O II círculo de saúde fechou mais uma vez com grande sucesso um semestre expondo contradições dentro da universidade. Desejo também meus parabéns ao grupo, que nesse semestre de 2010.1 finaliza 1 ano de atuação dentro da UFSC. Como diria “el Che”, “hasta la victoria, siempre”
Um abraço especial aos meus companheiros de saúde pública.

O que te faz levantar e viver cada dia?

Uôô... pergunta profunda não?
Eis que enquanto estava lendo um fórum virtual que frequento que normalmente aborda questões e filosofias masculinas me deparei com este questionamento.
Não minto, com certeza da natureza pensativa que tenho já devo ter parado diversas vezes pra pensar isso mas nunca concretizei em uma escrita. Eis que agora estou aqui escrevendo isso... o que diabos me faz continuar vivendo essa vida minha que considero maravilhosa?

O que eu sinto é que eu sei a respostas, mas não sei se conseguiria colocar ela em palavras e em uma linha de pensamento concreta, contínua. Normalmente consigo definir e enquadrar as coisas sem muita dificuldade... minha mente em um geral, pensa dessa maneira bem “quadrada” mas da qual não abro mão. Mas esse sentimento que vem em mim quando começo a pensar no que me faz levantar e viver cada dia eu sei o que é, e talvez se eu investigar ele consiga chegar numa resposta boa. O que eu sinto em mim quando essa pergunta me vêm em mente é uma palpitação forte no meu coração, um sentimento de ação, atividade, força e energia. Eu sinto uma enorme paixão quando faço esse tipo de reflexão. Essa paixão certamente é o combustível mais potencial que carrego dentro de mim porque é através dela que consigo toda e qualquer energia para seguir adiante com meus objetivos, mas isso comentarei mais a frente. Investigando isso, posso dizer que na minha vida existem duas coisas que geram em mim a paixão mais pura e quente de todas: estudar Psicologia e a atividade política/militância.

A Psicologia desde minha pré-adolescência pairava sobre minha mente junto com a filosofia a medida que ia me questionando e me interessando tanto pelos assuntos psicológicos/comportamentais quanto as questões da nossa vida: escolhas, emoções, pensamentos, aprendizagem... quando estou lendo e/ou discutindo algo realmente relacionado a isso este sentimento toma conta de mim e me fornece pura energia e força para pensar e acumular este tipo de conhecimento da melhor maneira possível. Expande minha cabeça, me faz bem e me faz sentir completo de certa maneira. Com exceção de uma ou outra aula cansativa e realmente desinteressante não demora muito para que eu seja tomado por esse sentimento gostoso ao qual me apego muito e passo a produzir diversas maneiras de elaboração de reflexão e posteriormente, conhecimento visando analisar a realidade com base nas teorias que aprendi.
A política também, em especial a militância me causa este tipo de sentimento de maneira inigualável junto com a psicologia. Quando paro para pensar no que acontece no mundo (o mundo de verdade e não ilusório de uma classe social privilegiada como a minha) e especialmente, quando paro e me vejo como parte da pequena parcela brasileira que teve acesso ao ensino superior sou tomado por este sentimento novamente. Me sinto vigorado, visionário... altamente estimulado. Sinto a força para fazer acontecer as mudanças e essa força ao mesmo tempo me guia para novamente adquirir o máximo de conhecimento possível e principalmente o que diabos farei com esse conhecimento pra definitivamente pensar e propor uma realidade NOVA para todos os outros seres humanos. O questionamento e a cobrança que me faço é (em berros dentro da minha cabeça) “QUE DIABOS VOCÊ PSICOLOGOZINHO DE MERDA VAI FAZER PRA MUDAR A VIDA E O QUE ESTÁ ERRADO? ALIÁS, TU TENS NOÇÃO DO QUE ESTÁ ERRADO? TEU CONHECIMENTO VAI SERVIR PRA QUE?”. A medida que este tipo de cobrança surge em minha mente a paixão me toma conta e me sinto confiante para seguir adiante, tomar minhas posições, analisar e dizer o que acho errado e pensar no que fazer. Durante minha participação em movimentos sociais esse sentimento novamente toma conta de mim e me fazia sentir uno não necessariamente com as pessoas, mas uno com a causa: a de uma melhora nas nossas vidas e na dos outros. Assistir documentários, ler sobre a sociedade... até mesmo caminhar na rua ou conversar com trabalhadores me faz pensar neste tipo de coisa, me faz sentir essa paixão, ânsia por uma atitude e vontade de fazer acontecer. A cobrança, de como cidadão e principalmente como ser humano, do que farei para retribuir não só esses que pagam minha formação mas a sociedade num geral que necessita de melhoras efetivas. Como o pensamento e certas ações desencadeiam nesta paixão a tomada de atitudes pra mim é essencial, portanto, logo me junto ao movimento estudantil para arranjar espaços de atuação.

O que me faz levantar pra viver é essencialmente paixão. Paixão pelo que eu faço, pelo que posso fazer. E é um ciclo interminável: cada livro que eu leio a chama acende-se mais e mais eu busco, cada questionamento que eu elaboro me motiva mais e mais eu penso/produzo, cada vivência me completa cada vez mais. Essa vontade, sede incessante de mudar e de saber. Além da certeza da morte posso dizer certamente que vou morrer sentindo isso e que vou viver eternamente neste estado. Estado este que me faz bem, pois acima de tudo confio no que sinto e confio nesta paixão que me guia, as vezes de maneira enfurecida, as vezes (raramente) com suavidade a alcançar meus objetivos custe o que custar. E enquanto vivo ela me completo a cada dia e é apenas por me sentir completo que a superação de todo e qualquer momento ruim se torna algo ínfimo e cada vez mais passageiro e superável .Portanto o que me faz viver é paixão: pelo que sinto, pelo que faço e especialmente pelo que posso e (pode ter certeza) VOU fazer.

Terapeutas da Alegria e Saúde

Sobre o Grupo terapeutas da Alegria

Há algum tempo atrás assisti um filme chamado “Patch Adams, o amor é contagiante”. Acredito que você que está lendo provavelmente também já assitiu, ou, no mínimo, já ouviu falar sobre. Trata da história de um famoso médico americano que tentou trazer para dentro da sua profissão a humanização da saúde e de seus pacientes no hospital. Para isso, Patch vestia-se de palhaço e saía fazendo brincadeiras com as pessoas do hospital; perguntava nome de pacientes; falava com eles sobre suas vidas e os amava, coisa que dentro de um hospital sabemos que é difícil vermos.

Quando assisti esse filme já tinha certo interesse pela área da saúde, em especial a saúde mental. Sempre acreditei que nossa felicidade atua diretamente na nossa saúde... pra não dizer que é parte dela indo muito além da necessidade da doença para que possamos dizer “estou doente” ou “estou saudável”. Outra coisa que sempre acreditei foi a força das emoções nas nossas decisões e acima de tudo no nosso bem-estar. Alegria, tristeza... tudo anda junto quando se trata de estarmos realmente saudáveis ou não. O fato de pessoas se vestirem de palhaços e visitarem hospitais sempre me chamou atenção de uma maneira positiva. Entendo o quanto momentos de risada e felicidade nos fazem refletir melhor sobre nossas situações e o quanto podemos abrir brecha para novas idéias, pensamentos e possibilidades de perspectivas, coisa que quando nos encontramos em um hospital a mercê ou não de uma cirurgia que pode mexer com nossas vidas não conseguimos, ou nos limitamos devido a condição emocional e até mesmo física de estarmos um local pequeno e fechado, cercado muitas vezes da mesma tristeza, angústia ou ansiedade. A força que momentos de felicidade nos dá para expandirmos nossa mente vai além do mensurável, acredito eu. Exemplos em nossas vidas não nos faltam para recobrarmos memórias de como diante de fazermos escolhas importantes os momentos em que mais sentimos leveza e segurança para aceitarmos nossas decisões e escolhas mais íntimas se torna muito mais tranqüilo quando estamos nos sentindo bem dentro de nós. Não só isso, conseguimos pensar e criar muitas coisas quando estamos vivenciando um momento de bem-estar e tranqüilidade. Entendendo portanto, que ao propiciar as pessoas ao meu redor esta segurança e alegria pode muito bem desencadear em bem-estar e em muitos casos, esperança de uma outra perspectiva totalmente nova de enxergar o agora preciso não só dizer que louvo a importância de grupos de humanização dentro dos hospitais como também parabenizo toda e qualquer iniciativa dos mesmos. Ao mesmo tempo, repudio toda e qualquer situação aonde profissionais da saúde se dêem o “luxo” de se colocarem acima ou sobre todo e qualquer ser humano que vá buscar sua ajuda, em especial estes que praticamente se masturbam com a idéia de serem doutores perante os “pobres coitados” que necessitam de seu conhecimento para estarem bem. Adiante...

Enquanto conversava com colegas de graduação fiquei sabendo da existência de um grupo denominado “Terapeutas da Alegria” que fazia este tipo de trabalho em Florianópolis. Recebi muitos comentários extremamente positivos sobre o grupo. Pelo que soube uma vez por ano ocorria o “recrutamento” aonde se faziam 6 meses de aulas com diversas dinâmicas cênicas visando a perda da timidez e também abertura ao toque e contato e depois mais 6 meses de visitas hospitalares, já com seu personagem para então “formar-se’ como um terapeuta da alegria. Não demorou e não foram necessários muitos esforços para que me sentisse altamente seduzido pelo grupo. Na época, já entendendo a humanização como parte da saúde como mencionei acima e também participando do Coletivo Acadêmico Interdisciplinar da Saúde percebi que tal grupo seria imprescindível para que eu realmente vivesse uma graduação interessante e acima de tudo pudesse vivenciar realidades diferentes, as quais poderiam com certeza me trazer diversos subsídios para toda e qualquer reflexão como futuro psicólogo e acadêmico de uma universidade. Ao término do semestre já passei então a manter-me informado sobre quando abririam as inscrições para o grupo. Ao início deste semestre de 2010.1 tive então a oportunidade maravilhosa de poder ingressar no grupo dos terapeutas da alegria. Ambiente aonde fico cercado de pessoas com as mesmas perspectivas e sede de vivenciar o que eu também gostaria. Não estão presentes apenas pessoas dos cursos da saúde mas de muitos outros também. O desejo de levar o bem-estar ao outro é evidente e estampado em todo o grupo. Durantes nossas vivências compartilhamos experiências muito boas de abertura para com o outro. Sempre que fazemos nossas brincadeiras (porque é o que fazemos: nós brincamos, coisa que deixamos de fazer de verdade a muito tempo posso admitir0 forma-se um ambiente de muita descontração e felicidade... essencial para nossas visitas. Tive a oportunidade de participar das visitas como observador. Como bom “definidor de coisas” que sou e como gosto de resumir as coisas, diria que em uma palavra viver isso é MÁGICO. Entrar no hospital infantil observando meus colegas veteranos de terapeutas encarnando seus personagens e se relacionando com todas as pessoas lá dentro, de funcionários até pais/mães e pacientes causou-me grande regojizo. Enquanto observava as interações via como o clima lá dentro se tornava diferente. Tensões eram desfeitas, sorrisos apareciam em rostos já caídos de tanta preocupação. Momentos de alegria, os quais anteriormente mencionei, essenciais para podermos enxergar além daquele quarto ou do que será da cirurgia amanhã, um espaço de liberdade da nossa mente. Confesso que emocionei-me profundamente com a visita. Confesso também que entristeci-me com a equipe que enquanto passava nos quartos teve a (in)felicidade de bater com a visita dos terapeutas. Médicos e enfermeiras meio carrancudas, entrando apenas para marcar em suas pranchetas dados das pessoas e indo embora. O contraste entre um grupo e outro era explícito.

Não estive presente nas duas últimas reuniões do grupo, mas já tenho uma idéia pré-formada do meu futuro doutor. Não vou expor aqui (hah) mas certamente assim que o tiver concretizado e vivido, irei dividir aqui minhas futuras experiências dentro deste grupo maravilhoso. Novamente parabenizo n ao só esta iniciativa mas também todas as outras que surgem ao redor do mundo, movimentos que nos façam pensar realmente e entendem a saúde como um todo e não como presença ou ausência de uma patologia.

Formação Política e Profissional


Por muito tempo, em especial durante meus anos no ensino médio passei a atentar-me mais aos movimentos sociais que aconteciam no mundo, mas principalmente ao meu redor. No começo, admito que julgava da maneira mais liderada pelo senso comum e a mídia dos jornais de almoçoe horário nobre: baderna, pessoas revoltadas, socialistas, etc...
Atentando apenas a estes limitados detalhes, jogados a mim por grupos ou entidades específicas adotava uma posição de muita descrença e falta fé neste tipo de mobilização: tudo que é público e/ou vinha do povo tinha um significado de baixa relevância dentro de mim. Não satisfeito, ainda achava que de certa forma as atitudes da polícia eram mais que justificáveis diante dos manifestantes.
Felizmente, a medida que estudamos e nos emancipamos como seres humanos, exe4rcendo nossa inteligência e senso crítico passamos a amadurecer e rever muitas das coisas das quais acreditávamos ou víamos como certo.
Atualmente, curso Psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina. Em tal ambiente, aprendi a exercer este meu senso crítico. Infelizmente, não necessariamente dentro das salas de aula de graduação mas justamente passando a ter um contato direto e indireto com o movimento estudantil. Através desta ponte, passei a atentar mais aos movimentos sociais e até mesmo aprticipar deles, não como "pessoa aleatória gritante" mas como elemento consciente da luta e das que4stões e necessidades envolvidas nas exigências públicas. Não cabe agora discutirmos a Universidade e sua função, muito menos se a UFSC cumpre ou não com ela. É fato porém que diante da grande necessidade de trazer as discussões da vida e do real para dentro da sala de aula que um grupo de estudantes do curso se reuniu, e decidiu que era hora de puxarmos um debate sobre a atual conjuntura da nossa cidade.

Antes de continuar relatando esta atitude do coletivo de estudantes, vale colocar aqui a situação que Florianópolis vive com seu transporte coletivo: Este ano a tarifa teve um aumento absurdo: hoje o custo é 2,95. Florianópolis já possuia desde 2005 um histórico revolucionário de um movimento contra o aumento das tarifas a preços absurdos, o Movimento Passe Livre. O MPL em 2005 realizou uma grande movimentação contra o aumento da tarifa, que diante de fortíssima repressão policial partiu para os danos ao patrimônio privado e também a ocupação do Terminal de Integração do Centro da cidade. Com muito suor, machucados e prisões, a tarifa que estava querendo chegar aos quase 3 reais foi reduzida aos seus 2.10. Hoje, revivemos esta realidade na cidade: temos um aumento novamente abusivo da passagem e com os argumentos do aumento do salário de cobradores e motoristas, como sempre, sendo jogados contra a população. Não sendo em totalidade ignorantes e analisando o fato de que o transporte embora seja público, seja gerido por empresas privadas passou então a exigir planilhas de custo através de atos públicos. As planilhas, que foram modificadas em seus custos e tiveram proteção de uma lei que não obriga a empresa a divulgar os orçamentos apenas serviram para gerar risadas do povo, para não dizer lágrimas de tamanha mentira. Com o último ato nas ruas tendo contado com mais de 5 mil pessoas e um número de pessoas cada vez mais esclarecidas de que a luta não encerrará na tarifa e sim na melhora total e quem sabe até municipalização do transport epúblico, temos então uma breve e simples análise de conjuntura. Existe hoje também a Frente Única contra o Aumento da Tarifa, composta por 42 movimentos populares, de sindicatos a partidos. Também faz parte o DCE da UFSC, ao qual faço parte da atual gestão.

Indignados e trabalhando dentro desta conjuntura, alguns colegas (eu incluso) do curso de Psicologia, decidindo trazer a universidade e suas discussões para a realidade da vida, fazendo com que assim, possa pelo menos tentar cumprir sua função construímos um coletivo com mais de 20 estudantes que decidiram puxar esta discussão, englobando também a função do profissional Psicólogo dentro de tal movimento. Como discussão principal elegemos a constituição do sujeito dentro de uma conjuntura com um transporte público precário, ineficiente, nada integrado e acima de tudo caro, inacessível a camadas sociais da periferia, normalmente desempregadas ou sem condições de gastarem 6 reais para ir e voltar atrás de um emprego ou um passeio em alguma das praias. Qual seria a condição desta pessoa em termos psicológicos? Como o profissional da psicologia poderia estudar o fenômeno de estruturação de uma pessoa diante de tamanha falta de acesso a cultura, lazer e até mesmo educação? Há quem diga que movimentos não funcionam, mas temos aí um excelente exemplo do movimento estudantil e o protagonismo do estudante diante de sua formação e graduação em plena universidade.

A importância dos movimentos sociais na minha formação

Foi apenas participando deste tipo de ação, que consegui me dar conta de sua importância. Pegando o caso do movimento estudantil, fica claro o respaldo que isto tem na minha formação profissional, senso crítico e principalmente constituição de sujeito pensante e atuante na conjuntura do real, da vida, do agora. Intervindo para resolver os problemas em sua raíz, e não os colocando apenas a frente ou ignorando suas causas. Não apenas isso, mas estar lá nas manifestações me fez repensar também a estruturação da nossa condição de vida social. Os interesses reais do Estado, a verdadeira função da polícia em grandes números, dispostas a disperar estudantes pacíficos com choque e em contrapartida muito mal espalhadas pelos bairros para dar segurança ao cidadão comum, para não mencionar a falta de viaturas e homens para cobrir a ilha. Fatores assim, estes, que ficam escondidos por cortinas as quais não nos damos conta até que realmente nos coloquemos propostos a enxergá-las. Barreiras invisíveis, que barram o real desenvolvimento do cidadão. Não consigo mais entender aonde se encontra nossa democracia, num lugar aonde a liberdade de expressão e a reinvidicação de direitos através de uma caminhada pacífica pode levar a repressão pesada e violenta de uma polícia treinada e condicionada para defender interesses além do qu8e a população reinvidica. Não obstante, vale também pensarmos o que estrutura e que hierarquias forçam um trabalhador policial a querer bater em pessoas desarmadas ou atirar nas mesmas. Além disso, que estruturas (a poçícia já pode er apiontadas como uma delas) fazem com que a população, mesmo diante de um absurdo que é pagar 3 reais em uma tarifa e um transporte público precário, se mantenha quieta e acanhada, mansa, obedecendo de maneira generalizada (mesmo que angustiada) o que lhes é posto a frente?

Fico feliz em hoje ter tido oportunidades de participar de tais mobilizações. Não vemnho aqui idolatrar ou repassar ideiais de uma sociedade, mas são fatos concretos neste meu relato: é pela participação em movimentos sociais e atuação nos mesmos que eu de fato consegui me achar e identificar não só como pessoa e sujeito, mas principalmente complementar minha formação como profissional que irá lidar diretamente na análise e atuação diante de tais conjunturas reais e postas em nossa frente.
Considerações sobre o filme "Precious: Based on the Novel Push by Sapphire"

Olá pessoal. Estreiando o blog.. uhul! :P
Hoje a tarde saí acompanhado de dois grandíssimos amigos meus: Franco, Bruno e Felipe. Depois de comermos um Subway decidimos ir ao cinema, Franco indicou-nos o filme "Precious". Bom, achei bacana e fomos assistir o filme, a namorada de Franco chegou um pouco depois e nos acompanhou na sessão.

Ps: SPOILERS HÃO DE VIR :P


O filme trata da vida de uma jovem, negra, residente do bairro Harlem de 16 anos. Retrata sua vida sofrida, repleta do que a sociedade chamaria de absurdos (dentre eles até incesto, abuso sexual do pai sobre ela). Porém, o filme me deu insights muito bacanas e decidi dividí-los aqui.
O nome da jovem é Precious (Preciosa). Além de sofrer com sua obesidade, sua vida é extremamente difícil: sofre com o ódio de sua mãe, com o fardo de ter 2 filhos com seu próprio pai e não aprender nada na escola. Somado a isso, temos também o desrespeito dos colegas com a mesma. Apesar disso tudo, talvez por sua ignorância ou talvez por sua grande força de vontade, Precious sonha. Devaneia. Ao longo do filme, sempre que passa por momentos tensos ou ruins ela se pega imaginando uma vida diferente, enxerga ela mesma com sucesso, amor, carinho e tudo que sempre quis. Grávida do segundo filho com seu pai, ela é chamada pela diretora da escola devido aos seus problemas e é indicada a uma escola colocada como "alternativa". Precious decide acatar a sugestão da diretora (o que causou mais problemas ainda com sua mãe) e passa a estudar com uma professora dedicadíssima na tal "escola alternativa". Junto com ela estão outras 5 ou 6 jovens, todas com problemas semelhantes e histórias de vida difíceis, dentre delas imigrantes ilegais, drogadas, mães que deram a luz ainda jovens e etc...
Ao longo da história, Precious aprende com a professora a ler e a escrever. Consegue fazer boas amizades, briga com sua mãe, tem seu segundo filho (a primeira filha dela se chama Mongo, segundo ela, diminutivo de Mongolóide dado pela mãe pois a menina sofre de síndrome de down) e descobre até que (graças ao incesto de seu pai) é portadora do vírus HIV.
Tem muitos outros detalhes, os quais não lembro e deixo a vocês que assistam o filme. A cena que mais me chamou atenção porém, é quando a assistente social/terapeuta chama filha e mãe (Precious eventualmente abandona a casa da mãe) para discutirem a situação e analisar o ganho de dinheiro da previdência social.
Pelas minhas palavras certamente não consigo passar o drama de uma jovem de 16 anos que jamais fora amada, sempre sonhara com um namorado e nunca tivera admiração de ninguém, mas foi extremamente dramática a cena aonde a mãe finalmente admite o porque do ódio pela filha:
A mãe sempre tivera ódio de Precious pois seu marido havia tido com ela 2 belos filhos e a amava. Isso a deixava possessa com a própria filha, fazendo com que a chingasse da pior maneira possível todos os dias e também a agredisse de maneira extrema. A terapeuta então indaga sobre o abuso sexual do pai com a filha, e para minha surpresa a mãe admite que sempre amou e cuidou da filha. Porém quando o marido a tocava, precious não gritava, não falava (ela tinha 3 anos...), e que ela própria questionava seu marido sobre isso e o mesmo dizia que Precious gostaria. No final a terapeuta chora, Precious sai pela rua com sues 2 filhos, abandonando a mãe e sonhando com um diploma de ensino superior e com a missão de cuidar e dar o amor que nunca teve aos seus dois filhos, junto com o peso de ser soropositiva.
A história é boa, um drama excelente e recomendo que assistam. A alusão porém, com o nome da menina e a vida dela para mim soa perfeita.
Alguns pontos que me chamaram atenção:

1) Sobre mim, minha carreira e o mundo: Penso agora quantas e quantas "Precious" existem no mundo hoje. Permita-me assumir minha condição como jovem sonhador e querer consertar o mundo e os seus problemas. Cursando Psicologia encaro como missão promover ao longo da minha vida sempre a saúde e o bem estar mental das pessoas (sempre entendendo que pra isso é necessário que existam condições básicas de existência, como uma moradia, comida e profissão), e ao imaginar quantas pessoas existem por aí (como a personagem) senti-me ainda mais motivado a seguir esta carreira. Entendo que assim como para Precious muitas outras pessoas encaram a vida com dificuldades que saem do nível da normalidade, algumas, vivendo sob tensão mental extrema sem condição nenhuma para conseguirem ver seus próprio valor como ser humano, apenas existindo e não vivendo. Não porque não querem, mas talvez porque estas condições jamais surgiram ou tiveram espaço em suas vidas. O drama me fez enxergar mais ainda o meu futuro dentro da área da saúde mental, motivei-me a estudar e seguir em frente para poder exercer e mudar as coisas de maneira concreta. Isso me deixa feliz (não o fato de existirem pessoas tristes ou com dificuldade!) e afirmo aqui que sigo firme na Psicologia!
Por fim, queria fazer uma alusão ao final do filme: Com as luzes apagadas e a história envolvente, certamente estávamos todos na sala de cinema envolvidos com a história e dotados de fortes emoções. Mas ao apagar as luzes, simplesmente nos levantamos, saímos, colocamos nossas coisas no lixo e, ao passarmos uma porta nos deparamos com o mundo e logo nos esquecemos do que vimos durante as horas de filme. Certamente, posso estar errado, talvez muitas pessoas tenham saído dalí com insights tão bons quantos os meus ou até certamente superiores! Mas as vezes parece que encaramos as coisas assim, como um mecanismo de defesa: sabemos as dificuldades, as tristezas e o que acontece na nossa volta, mas ao nos darmos conta que estamos no plano do real acendem-se as luzes e acordamos... e logo esquecemos as coisas para entrarmos em nossas rotinas.

2) Sobre o Espírito humano: Ao acompanhar a história de Precious, também me faz pensar o quão maravilhoso pode ser o espírito que carregamos dentro de nós. Diante de tantas dificuldades e até mesmo afirmando que o amor nunca trouxe nada a ela a não ser dor, tristeza e abuso sexual, Precious se manteve firme. Estudou, aprendeu a ler e a escrever. Colocou em sua cabeça que iria criar seus filhos e dar a eles a base emocional que jamais teve durante toda a sua vida. Iria educá-los e transformá-los em boas pessoas. Mesmo ao ter a notícia de ser protadora de HIV, chorou ao falar para suas amigas, mas em pouco tempo estava em pé novamente.
Diante de todas as dificuldades Precious se manteve. Certo que estamos falando de um filme, mas vamos nos lembrar que a arte nada mais faz que imitar a vida, exemplos de pessoas com um espírito forte e uma luz que se espalha para os outros não nos faltam na vida e ao mesmo tempo enobrecem nosso próprio espírito, quase sempre, fazendo com que esbocemos sorriso.

3) Sobre a importância das escolhas na nossa vida: Quando a mãe de Precious disse, indagada pela terapeuta, que não havia socorrido a filha do abuso pois ela parecia gostar (não pedia socorro) e porque tinha medo de que ao contrariar o marido iria perdê-lo me veio na cabeça a importância das escolhas na nossa vida. Dia após dia fazemos escolhas. No caso da mãe de Precious, seu egoísmo mesclado com sua ignorância desencadearam em uma vida de ódio e frustração tanto para ela quanto para a filha. O tempo passa e estamos sempre tendo que escolher entre um ou outro caminho. Ou fazemos isso, ou fazemos aquilo. É certo que por fim, sempre nos damos conta que as escolhas foram certas, afinal, no mínimo nos deram aprendizagem para que os erros não se repitam. Mas ainda assim, é de se pensar o quanto talvez um "sim" ou "não" pode mudar nas linhas do tempo (para alguns, destino) e do espaço como será nossa vida em um geral daqui pra frente.

Grande e talvez filosófico demais, mas fazer o que, é meu hobby pensar.