Coletivo Acadêmico Interdisciplinar da Saúde e II Círculo da Saúde
(post longo e desinterssante para não acadêmicos)
Antes de mais nada quero dizer que me sinto realizado e cada dia mais confiante na minha formação universitária. Não necessariamente pelos conteúdos que tenho visto em sala de aula neste final de semestre (que se resume a seminários apresentados por meus colegas, felizmente, alguns muito bons) mas sim por parte dos movimentos que tenho ajudado a construir e têm me construído. O Coletivo Acadêmico Interdisciplinar de Saúde (CAIS) é um deles.
Houve um momento em que a gestão passada do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSC, a Boas Novas, identificou um sério problema nos cursos da saúde: a discussão sobre saúde pública, humanização e SUS era escassa. Mesmo com muitos dos cursos das áreas da saúde já inclusos na política do Pró-Saúde (calouros que lerem isso, irei repetir sobre Pró-Saúde até grudar na cabeça de vocês), que foca um novo currículo e disciplinas que englobem a questão da saúde a discussão era pouca ou nula. O debate foi chamado e o auditório do CTC quase ficou cheio de estudantes interessados no tema saúde pública e universidade. Eis que pela iniciativa de alguns estudantes mais os palestrantes daquela data, surge a ideia e provável necessidade de se formar um grupo de formação, composto pelos Centros Acadêmicos dos cursos envolvidos com a saúde (Enfermagem, Nutrição, Psicologia, Medicina, Farmácia, Odontologia, Educação Física e Serviço Social) para que pudessem abordar melhor a questão do SUS e seus valores não só para os membros mas também para a comunidade universitária e relacionada ao tema através da realização de atividades que englobassem o assunto. Fui copitado a este movimento ainda quando estava na 1ª fase do curso pela maior militante da psicologia até hoje já vista. Dado meu interesse na psicologia como área clínica e de saúde mental não pensei duas vezes em me juntar a tal grupo. Logo na primeira reunião fui rapidamente acolhido pelos membros, que através de dinâmicas e uma forma totalmente diferente de conduzir reuniões de movimento estudantil (não tão rígida e engessada, mas suave e contínua de acordo com os membros e seu respeito) me colocaram no clima do CAIS. Não sou muito adepto deste tipo de reunião, confesso, ainda prefiro as coisas ordeiras e quadradas de vez em quando. Mas a sensação dentro do grupo era e é outra. O espaço do CAIS acabou por se tornar um dos espaços mais ricos do meu primeiro semestre na UFSC. As discussões iam desde as concepções de saúde de cada membro e comparação do currículo dos cursos da saúde até o SUS e sua abordagem de atenção primária. Era um prazer quase sexual, como dizia um antigo professor meu do cursinho, estar naquele espaço discutindo com futuros médicos, futuros psicólogos, futuros farmaceuticos... saúde, e um modelo transdisciplinar de se enxergar não apenas o tratamento mas também a promoção de saúde e principalmente a atuação na prevenção da doença. Como espaço de movimento estudantil e com a pauta riquíssima que a discussão de uma atenção primária nos traz foi sempre inevitável que chegássemos também na discussão de como nossa sociedade atual se organiza e como ela, atuando da maneira que está hoje, dificulta o processo da prevenção e da garantia de direitos básicos de existência para todos. Não satisfeito, o grupo do CAIS também realizava uma vez por semana reuniões de articulação, visando pensar atividades para estender nossas discussões sobre saúde para fora do nosso espaço do coletivo e trazer a reflexão dentro da universidade sobre seu papel formador e compromisso, no caso dos cursos de saúde, com a realidade da necessidade de se pensar saúde pública e SUS. Tendo este foco, o CAIS conseguiu no final de 2009.2 realizar o I Círculo de Saúde. A proposta do círculo era discutir o conceito de saúde com as pessoas presentes, visando ampliar e enriquecer tanto as nossas concepções de saúde quanto a dos outros. Foi feito um vídeo entrevistando discentes, estudantes e comunidade aonde eram indagados por perguntas que os faziam dividir a sua concepção de saúde. No encontro, como sempre, para dar o “clima de CAIS” foi realizada uma intervenção artística com uma das duplas mais excitantes da UFSC, o Poeta Cezinha e Pedro com sua maravilhosa sanfona. Após a intervenção foi exibido então o vídeo editado (com muito carinho e companheirismo dos membros por sinal) que atuou como disparador da discussão. Ainda em clima de CAIS, após o vídeo foram convidados todos os presentes a irem até a grama em frente aos CA's do CCS, e divididos em dois grupos, sentados em roda na grama, discutir o vídeo e o que era saúde para o grupo. A proposta final era a de uma apresentação artística, por parte do grupo resumindo a concepção elaborada de saúde. Um dos grupos optou por teatro; o outro; pela opção de expor através de desenhos os conceitos; e não pude deixar de maravilhar-me com o que assisti e ouvi nestes dois dias de círculo de saúde. No fim, todos fizeram desenhos com sua concepção de CAIS e saúde e colamos nas paredes do prédio do CCS (desenhos estes que ficaram por um bom tempo lá colados, por um milagre inexplicável ou talvez força do CAIS). Encerrou-se então o semestre de 2009.2 com grande sucesso para o CAIS e com muito conhecimento que pude adquirir com o grupo.
Reiniciamos então o semestre letivo, desta vez em 2010.1. O CAIS sofreu com a perda de alguns de seus membros iniciais e o grupo modificou-se: ainda assim, manteve-se em essência. Sempre pensativo e propositivo o coletivo tratou logo de adaptar-se com sua mais nova formação e reiniciar o vapor das discussões sobre saúde que sempre pairaram em 2009. Não demorou muito tempo para que o CAIS voltasse com suas riquíssimas discussões sobre saúde (grande maioria, senão todas, muito superiores do que a maior parte das aulas que tive neste semestre em termos de gerar conhecimento para mim) contando agora com novos membros e a participação em alguns encontros de formação de pessoas já formadas e atuantes nas áreas da saúde e atenção básica. Com as discussões de formação e articulação foi então encaminhado que ocorreria neste final de semestre o II Círculo de Saúde, visando a superação do primeiro encontro. Eis que tal objetivo não foi apenas visionário mas mais uma vez tornou-se concreto nas mãos dos estudantes. O encontro contou com a presença de mais de 50 pessoas dentre elas discentes renomados e especializados nas questões de saúde mental e saúde pública. O tema selecionado foi saúde mental do estudante, visando gerar um debate em cima das questões das condições reais de uma saúde mental estudantil englobando desde a estrutura universitária e o posicionamento dos docentes (em especial os de medicina) até a questão das grades curriculares e seus efeitos altamente maléficos em cima de uma rotina massante de estudos e embasada em relações de poder altamente difíceis de se romper. |Relações estas que foram em parte rompidas neste encontro do II círculo da saúde que foi realizado em uma das salas de capacitação do curso de enfermagem. Novamente, o “clima CAIS” não ficou de lado e todos sentaram-se em círculo: discentes e docentes, no chão, compartilhando nas mesmas canecas o chá oferecido pelo CAIS. Novamente optamos pela visualização de um vídeo (que dessa vez foi dividido em 3 partes) como disparador da discussão. No vídeo, houve a presença de professores, estudantes e técnicos administrativos comentando sua concepção sobre “saúde mental” e logo após as implicações que a universidade causa na sua própria saúde e na de seus colegas. A participação dos presentes foi em termos simples, maravilhosa. Professores e estudantes expuseram seus pontos de vista, debaterem e propuseram. Mais maravilhoso ainda foi estar presente em um espaço aonde a pauta não foi na linha “o mundo está uma merda, e agora?” mas sim no sentido “temos x, y e z. O que faremos HOJE, pra mudar isso?”. Devo sem medo ressaltar minha gratidão pela presença do professor do departamento de saúde pública Walter, que pela primeira vez me deu a chance de acreditar que o corpo discente não está perdido, mostrando clareza de que nem sempre a falta de um sucesso imediato é significado de fracasso mas sim sinal de uma construção contínua para o progresso de todo e qualquer movimento. A coordenadora de curso de Psicologia, infelizmente, cometeu mais uma vez o erro de criticar o CALPSi, coisa que os membros lá presentes não fizeram nem questão de responder, até porque a questão do Circuito Etílico da Psicologia, todos sabemos, mais promove saúde mental do estudante através da integração do que “alcoolismo” e uma visão deturpada de festas e bebidas para os calouros.
Em suma, jamais me arrependerei de um dia ter tomado a iniciativa de tornar-me parte do CAIS. Nem de ter doado parte do meu tempo e do que doarei para a realização de espaços de resistência e tomada de consciência para a realidade dentro da UFSC. O II círculo de saúde fechou mais uma vez com grande sucesso um semestre expondo contradições dentro da universidade. Desejo também meus parabéns ao grupo, que nesse semestre de 2010.1 finaliza 1 ano de atuação dentro da UFSC. Como diria “el Che”, “hasta la victoria, siempre”
Um abraço especial aos meus companheiros de saúde pública.
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Só uma correção: "corpo discente não está perdido, mostrando clareza"
ResponderExcluirNa verdade é corpo DOCENTE, do qual o prof. dr Walter faz parte.
E fiquei curioso pra saber quem são os DISCENTES renomados. heheheh
ResponderExcluirMuito mesmo, Bagé! Não deixa de escrever.