Belíssimo dia das crianças! Mas
podemos chamá-lo de um dia feliz?
No Brasil 45,6% das crianças vive em famílias
pobres. Somos um país aonde a desnutrição infantil é uma realidade para parte
da população. Um país onde de cada 100 jovens, 59 terminam a oitava série e
apenas 40 o ensino médio. Onde mais de 3 milhões ainda se encontram sob
condições de trabalho infantil. Para não mencionar os que vivem nas ruas e que,
por conta dessa condição, já foram/são mortos - descansem em paz os jovens da
Candelária.¹
Inevitável não me entristecer.
Mas fico tão mais triste quando vejo pessoas que na sua infância tiveram
cuidadores e ganharam brinquedos, que foram incentivadas ao estudo e ao
trabalho e que puderam se apoiar em exemplos próximos para projetarem suas
vidas adultas em segurança; olhando para todas "as outras" que não
tiveram estas condições e propondo nada mais que a redução da maioridade penal
e menos políticas assistenciais. Acham que elas precisam “aprender a pescar"
e que precisam ser punidas pelo que são, visto ser culpa exclusiva delas.
Esquecem-se das fases de suas próprias vidas e descartam todos os dias
parte da juventude brasileira que ainda é, quase que em sua maioria,
marginalizada. Jogam fora o futuro do nosso país aos poucos, sendo consciente ou
inconscientemente ignorantes, para não dizer odiosos/odiosas em boa parte dos casos. No
que se refere ao menor em conflito com a lei, a solução é a mais imediata e
higienista o possível: trancafiar todos! Em especial agora, sob o aval de um candidato que
privatiza presídios e que apoia a medida - nada mais coerente da parte dele. E é
apenas isso que podemos oferecer a uma das desgraças de nosso país. O
descarrego de uma cólera coletiva, que tem dificuldades de ganhar
sentido senão pelos afetos mais brutos da psique humana, quando não
travestida de uma completa apatia para com os jovens carentes ou
desinteresse completo em suas histórias e determinantes que extrapolam
suas individualidades.
Com frequência sou criticado pela radicalidade no que se refere às soluções para problemas
estruturais do Brasil. Mas quando vejo que diante destes casos as palavras
"socioeducativo" e "reinserção social" se tornaram parte de
um vocabulário "asqueroso de direitos humanos", fico
preocupado com o trabalho a ser feito em termos de conscientização e construção
de uma sociedade justa e mais humanizada. De qualquer forma, um feliz dia das
crianças para aquele seu priminho ou sobrinha, que ganhou coisas, carinho e é
alimentado de perspectivas todos os dias. Como a vida é bela e a infância
magnífica, né? Vou até abrir um champanhe pra comemorar e lembrar meus bons
tempos feliz e inocente, ou minha impulsividade adolescente...
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