Mental Tchê 2016. Frio. Estou
pela segunda vez participando deste encontro e ao contrário do ano passado,
onde Luiz Coronel, um autoritário de 1ª linha, assumia a coordenação estadual
de Saúde Mental discursando abertamente contra a reforma, a conjuntura consegue
ser pior!
Vivemos um golpe descarado e de
5ª categoria, com uma presidenta impedida por motivos os quais todos seus
acusadores já foram acusados, se não fizeram comprovadamente coisas piores. Em
parte a culpa é de um governo petista, que vendeu a alma e inclusive o SUS para
governar um país. Mas para além disto, em especial na Luta Antimanicomial, fez
questão de seduzir lideranças com cargos estatais e empregos, desencadeando no
aparelhamento de um movimento que tem justamente em sua essência a liberdade.
E aqui estou, diante de todo este
caos e de uma clara desmobilização, vendo velhos quadros da luta, petistas
filiados ou de linha política, jogando em um encontro sua linha de ação que
envolve retomar a fé nos "representantes do povo", estes que nas
últimas semanas demonstraram claramente a decadência sem recuperação do sistema
representativo que os sustenta, sejam eles de esquerda ou não. Lançam sua linha
política (muitos com a maior boa vontade) em um dos espaços centrais do curto encontro, fazendo uma sucessão de
falas que corroboram com sua linha de ação sem a possibilidade de que se possa
criticar publicamente sua fé em uma frente parlamentar para resolver nossos
problemas e "nos proteger" dos retrocessos. Um dia estas frentes já
foram fundamentais e imediatas, mas hoje já perderam sentido. Fico me
perguntando quem que ouviu os discursos proclamados defendendo a necessidade
dela e que saiu defendendo a mesma. Ninguém. E é aqui, neste ponto, que estamos
sendo aparelhados. Não estamos sendo convocados por estas pessoas para
retomarmos nossa militância de base, autônoma. Não estamos sendo estimulados a
retirar estes velhos quadros de seus lugares para dar espaço a uma nova geração
a qual ela, e só ela, pode dar o gás e a criatividade necessários para retomar
aqui que estes velhos militantes outrora fizeram muito bem, mas que hoje esqueceram para
se ocuparem do Estado e dele até hoje se ocupam. Vamos retomar nossas
associações, reforçar os movimentos já existentes. Vamos tomar esta luta para
nós e não relegar ela aos nossos representantes!
E enquanto escutava estas falas e
tinha em meu âmago estes pensamentos, eis que se encerra o espaço e entra a Nau
da Liberdade. Fazem sua magnífica apresentação, sem relação nenhuma com o
espaço anterior: estão apenas apresentando sua obra. Como ninguém, tocam todos
e estimulam as pessoas a dançarem junto deles. Sou também convocado, mas não
consigo. Não porque não gosto deles, mas porque se tornou impossível viver esta
"amorosidade" depois de tamanho e descarado aparelhamento; depois de
ver gente ressurgir com falas inflamadas apenas porque é Temer que está no
governo e não seu candidato falas que nunca surgiam durante o governo petista
que também desmontou o SUS. Saí e fui escrever este texto. E que nenhum
reacionário se engane de usar este texto para deslegitimar a Nau, o Mental Tchê
ou a reforma psiquiátrica, pois sei muito bem que foi com vocês que este câncer
da nossa democracia chamado "governabilidade" foi gestado e pode se agravar.
Seguimos na luta e mais do que
nunca precisamos deixar de contemplá-la e assumi-la firmemente em nossas vidas.
Belo texto !
ResponderExcluirEu também fico vendo essa movimento, e tenho receio de ser apenas um discurso vazio, sem a reflexão de a esquerda e o momento exigem.