CRÔNICAS DE TEMPOS DE GOLPE - PRESOS NA SURPRESA

No início de Setembro de 2017, vivi e vi o Movimento Brasil Livre cancelar uma mostra de obra de arte na minha cidade, acusando a mesma de promover o que se convencionou chamar de “gayzismo”, que na prática são as discussões que promovem a temática LGBT e os sujeitos desse segmento.

Esse fato entra junto de muitos outros em um rol de acontecimentos que vão gradualmente compondo tempos nefastos e retrógrados no nosso país. Só aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, temos um prefeito que é aliado/membro direto desses movimentos de extrema direita e que recentemente acionou a justiça para proibir que façam manifestações contra ele. Nem a presidenta (supostamente uma comunista autoritária) em vias de sofrer impeachment apelou para tal medida. Ao norte do país, as sombras do famigerado Escola sem Partido avançam na direção da formação de um policiamento contra a doutrinação ideológica, especificamente a de esquerda, pois a de direita com seus preceitos mecadológicos pode e deve ser difundida livremente.

Os setores mais progressistas se indignam e dizem: “esses movimentos de direita se vangloriam de serem favoráveis à liberdade, mas na prática têm operado com um crescente autoritarismo mesclado com ódio!”. E eu me pergunto enquanto escuto isso o seguinte: qual é a surpresa? Talvez em algum momento tenhamos perdido o tino do debate sobre luta de classes, que desde muito tempo já denuncia que a liberdade que a burguesia sempre se refere é a de mercado. Não há nenhuma preocupação desses movimentos que se dizem livres ou libertários com a liberdade humana, pois caso houvesse eles não estariam caçoando de professores em greve ou apoiando a repressão contra manifestações estudantis; muito menos vibrando com o fechamento de uma galeria de arte! Vale dizer que era uma galeria de arte promovida por um banco internacional, de forma que poderíamos tranquilamente aplicar a fórmula liberal universal da “mão invisível” e pensarmos da seguinte forma: se eu não gostei, não frequento e nem uso mais esse banco. Evidente que o MBL e seus apoiadores não operaram dessa forma, mas sim pela da repressão. Repressão de uma temática específica e que diz de setores marginalizados da sociedade, o que torna a ação deles ainda mais direcionada.

Acredito que para nós são tempos de perguntas e não de respostas imediatas, muito menos soluções prontas. Encerro então retomando a pergunta: Por que ainda estamos presos na surpresa?

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