Elogio ao descabimento


Tenho descoberto que eu amo mesmo é o descabimento. Abri o dicionário pra rever o sentido da palavra e o verbo “descaber” diz do que é importuno, do que “não se presta a caber”. Cabe diferenciar esse não caber que eu amo do da retórica de um governo federal que se diz descabido, quando na verdade muito cabe “na economia” – esse aí cabe, bem demais até, no fascismo racista (sim temos que pecar pelo excesso) que o capitalismo demanda.

Quero só limpar o campo para dizer de novo: amo pessoas descabidas. Amo o descabimento. Amo quem se permite errar e erra, quem faz merda mesmo. Porra, quebra a cara bonito, sabe? Mas foi fiel ao que sentia. Pede desculpas depois e muda, mas que tem tesão mesmo é em quebrar a cara. Se espatifar de tanto afeto. Quem tá propenso a investir no que não cabe no contexto, no que é disforme! Denuncia talvez a aposta em um vir a ser a partir do erro tosco de querer fazer caber algo onde não cabe - planos destruídos e refeitos. Deu errado!

Tenho detestado gente controlada, nada contra, mas a civilidade demasiada nos afetos me incomoda. Relacionamentos perfeitos, pessoas perfeitas, bem resolvidas, “calmas”. Que vida é essa?

Eu sou descabido também. As vezes sem querer e muitas vezes de propósito: adoro inserir uma tensão. Adoro ser impertinente. Adoro também ser disciplinado, rigoroso.. mas um pouco de descabimento vai bem, sobretudo no amor.

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