Tenho feito essa pergunta. Em
dado momento apelei pra psicologia freudiana ortodoxa e tinha claro para mim que era
para sublimar alguma coisa, mas depois critiquei essa visão e comecei a achar
que era pra eu viver a atualização e não a superação de algo. Tem esses
efeitos, mas não sei se é por aí.
Garcia Marquez disse que pra ele
era uma maneira de fazer com que seus amigos o amem mais. Não é meu objetivo,
mas acho que reforço amizades escrevendo, pois tem uma dimensão política e
afetiva envolvida e um endereçamento que é muito maior do que pra mim mesmo.
Aliás, sobre política, Orwell também respondeu dizendo que escrevia para
denunciar, desfazer mentiras, viver o que é público – com o adendo de que não
conseguia de forma alguma em seus textos perder a habilidade de escrever
inutilidades. Agrada-me o que ele diz, faz sentido. Política, amigos e
inutilidades. Faço firulas e repetições na escrita, apesar de gostar de ser
objetivo no meu cotidiano.
Já Saramago disse certa vez que
escrevia para não morrer. Tem algo vital mesmo, mas pra mim não sei se a
escrita acontece pra que eu não morra. Nesse aspecto gosto da Clarice: ela sim
quer morrer. Escreve pra se destruir, se despedaçar. Gosto dessa ideia, gosto
de ver que eu realmente me detono escrevendo e nem sei as vezes o rumo que isso
vai dar…
É bom ler eles, mas e a minha
resposta? Tenho percebido que escrevo porque no fundo sou muito ligado ao presente, apesar
de amar o passado. Quero ficar as vezes lá atrás, mas o presente fica me
chamando todos os dias e é a escrita que faz eu me conectar com ele e vive-lo
de forma menos dura. Não sinto ser algo hedonista, não se trata do mote “You
only Live Once”. É uma espécie de respeito à importância de viver de forma mais demorada os impactos do dia a dia em minha
subjetividade. Trata-se de respeitar mais certos encontros.
É isso: escrevo pra
que me mantenha ligado ao presente, mas respeitando meu passado para que exista
um futuro diferente.

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