Fim de ano com Mário Quintana


Mais um ano que vai encerrando e 22 anos que vão se completando. Achei pertinente fazer alguma postagem neste blog a respeito disto. Para tanto, recorri ao poema de Mário Quintana - “O Tempo”.

Mais do que qualquer coisa este ano para mim foi o ano dos riscos. Foi o ano em que me deparei com alguns dos maiores buracos colocados na estrada que tenho construído até então, alguns dos desafios que pelo menos na aparência, seriam dos mais difíceis de se confrontar. E foi nesse ano que eu radicalizei: não haveria escolha além de bater de frente com todos estes obstáculos e arriscar. Arriscar superá-los, arriscar compreendê-los e, sempre, arriscar me machucar no processo de seguir meus ideais e meu coração. Houveram momentos destes, com os quais aprendi, e houveram momentos de glória e triunfos. Aprendi muito bem que viver é correr riscos, tomar certos passos que são difíceis, que nos trazem ansiedade e medo, mas que precisam ser dados.

Foi um ano que me trouxe muito prazer e alegria, assim como medo e incerteza. Mas acima de tudo foi um ano de conquistas. Foi o ano em que aprendi de fato que não deve haver motivo ou impedimento para que eu seja guiado por esse sentimento que vive dentro de mim, uma mistura de amor, utopia e guerra (aquele que mencionei em um poema colocado aqui).
Esse ano me deu no final das contas muita força. Força para aproveitar e força para construir algo novo e melhor todos os dias que virão.

Por isso, o poema de Mário Quintana. Pois no pano de fundo, é isso que nós temos: nossa vida e o tempo, que só vai. Enquanto a vida... essa uma hora para. Mas é nossa oportunidade de construir e de usufruir, sem medo de errar.



Um feliz 2012.

Crítica a saúde apolítica

Estou aproveitando estas férias para aprofundar um pouco mais meus conhecimento sobre saúde, em especial saúde coletiva. O texto que li e que desencadeou esta reflexão foi “Saúde e Meio ambiente”, de Minayo. A ideia é reivindicar a teoria sistêmica apresentada no texto para evidenciar a necessidade da superação, no profissional de saúde, do tecnicismo enfatizado na universidade e do pouco estímulo generalizado a ação e reflexão política, essencial quando se trata de promoção de saúde.

O texto de Minayo é dedicado a estudar a relação do meio ambiente e o debate de desenvolvimento sustentável com saúde. Para isso a autora apresenta a teoria sistêmica, elaborada por Ludwig Von Bertanffy em 1978. Não vou apresentá-la aqui de maneira integral, mas a proposta é um pensamento dinâmico e a superação de dicotomias e compartimentalização do conhecimento, apresentando a necessidade de que para entendermos os complexos fenômenos humanos e naturais devemos entendê-los sob a ótica de um contexto, de uma imprevisibilidade e de uma dinâmica em eterno movimento de transformação. A proposta é pensar a saúde desta maneira também, sendo ela a intersecção da relação entre comunidade, economia e ambiente. Para muitos, trata-se na verdade da interdisciplinariedade, a superação de uma ótica cartesiana de conhecimento e o avanço para um novo patamar científico e epistemológico, baseado no diálogo entre os conhecimentos. Aqui temos parte da sustentação do debate sobre a participação social no sistema de saúde, pois a construção de uma sociedade saudável perpassa pela participação dos indivíduos residentes nesta, não apenas como elementos efetivadores de ações de saúde como também parte essencial da formulação de um conhecimento necessário sobre saúde coletiva para o país. Até aí, temos a teoria muito agradável, beirando a clássica cena de olhos lacrimejantes de uma pessoa emocionada com a possibilidade de “uma transformação para um mundo melhor”, onde os pobres serão ouvidos e valorizados e toda aquela tendência humanista e assistencialista que sobrevoa a ingenuidade pequeno burguesa sobre mudanças sociais significativas. É sobre essa tendência que gostaria de tratar, pescando um dos elementos que certamente desencadeiam essa ingenuidade e que dificultam de fato uma práxis sistêmica, uma vez que um dos elementos centrais da teoria passa a ser negligenciado sistematicamente desde o nascimento da maioria dos brasileiros: o político.

Fato é que conseguimos ter quadros intelectuais muito bem formados hoje no ensino público superior. Temos um sem número de doutores e profissionais extremamente bem instruídos e capacitados a dissertar sobre todos aspectos técnicos, científicos e epistemológicos sobre uma série de fenômenos sociais e biológicos. EM contrapartida (e sei que os elementos que não se enquadram nessa descrição não vão incomodar-se com minhas alfinetadas), temos de maneira geral uma ingenuidade política disseminada entre grande parte deses sujeitos, que evidencia-se pela total ausência destes em espaços e discussões de cunho político e um desprezo enorme pela militância e participação na reivindicação de direitos e mobilizações sociais. Certamente não estou me referindo àqueles que não defendem a saúde coletiva enquanto meio de mudança social muito menos aqueles que ainda defendem concepções reducionistas de ciência de ser humano – estes, nos encontraremos vida afora e disputaremos diretamente estas concepções. A crítica aqui está justamente a todos aqueles estudantes (eu incluso), profissionais e professores que reivindicam este tipo de conhecimento e construção, mas de maneira contraditória comportam-se como fiz a referência acima, ignorando a necessidade do envolvimento e informação política e tendo seu centro em técnicas e teorias de maneira exclusiva. Há aí uma enorme incoerência entre a teoria que se defende e sua aplicação. Não vejo justificativa nenhuma que faça alguém instruído sentir-se confortável na posição de defensor de uma mudança social sem a experiência, a referência de um horizonte político claro e a prática política cotidiana dentro de suas limitações pessoais. Mais duro ainda deve ser o “puxão de orelha” em professores e profissionais, uma vez que configuram-se como elementos detentores de um certo poder sobre outras categorias e em sua tarefa de educação podem reproduzir a ingenuidade de uma teoria desvinculada da prática política.
      Isso nos faz atentar para o elemento que eu gostaria de fisgar aqui: a tendência tecnicista universitária, transfigurada na clássica “neutralidade” do conhecimento ou a “liberdade” para tudo que aparecer. Não é por acaso ou por maldade que temos a tendência a negligência política. Há na universidade hoje uma série de mecanismos que possibilitam a instrução de estudantes e futuros professores/profissionais na direção de uma educação “pura” e “técnica”, não havendo espaço para a política enquanto espaço de formação crucial para a criação de intervenções e conhecimentos significativos para a sociedade. Eu, certamente, acredito que isto não aconteça “à toa”, e que esses mecanismos referenciados estão ligados diretamente a estrutura universitária, a qual já explorei em postagens neste blog (saúde mental do estudante e alguns outros). As decorrências disso são profissionais de saúde que não constroem em seu cotidiano espaços políticos, não defendem publicamente os direitos dos cidadãos e lavam suas mãos diante da necessidade de um posicionamento político claro, acreditando que sua atuação esteja vinculada apenas em “ajudar o outro” ou generalizações do tipo. Para fechar esta crítica, quero trazer aqui a noção da necessidade de ampliação do conceito de “participação social” para “participação comunitária”. Para a autora é preciso termos uma ampliação deste conceito, e passar a tratar os fóruns e espaços públicos como comunitários, abertos a todos os setores sociais (inclusive empresariais). Acredito que só existam benefícios com esta concepção, mas atento apenas a uma consideração: tendo profissionais pouco preparados para a disputa e organização política (que é também sua função, enquanto profissionais de nível superior), temos a chance de que em espaços devidamente públicos os interesses privados tenham hegemonia nas decisões político-sociais sobre saúde, as quais, não há necessidade de termos nenhum pudor, representam uma série de retrocessos (vide a indústria farmacêutica). Agora, podemos ter uma série de benefícios, políticos e sociais, se os profissionais de saúde estejam preparados para construir e estimular a participação popular nestes espaços, enriquecendo-os e trazendo ganhos muito significativos não apenas em termos de decisões sobre a saúde mas também a necessária revitalização política para os brasileiros, etapa crucial para uma transformação social, bem como a defensoria pública dos interesses empresariais, os quais não ocorrem, ficando na surdina e fugindo de um controle social mais amplo e evidente (o que, novamente, só contribui para a deserção e um posicionamento incrédulo em relação a política).

Agora, fácil é estarmos na frente de um computador digitando este mundo de críticas e nada fazer. É tempo, mais do que nunca, de pensarmos como podemos alterar este cenário. Como hoje, os estudantes, professores e profissionais de saúde podem contribuir para a essencial construção integral de conhecimento e ação social? O primeiro passo, acredito, já está ocorrendo em algum grau. Primeiro é o reconhecimento e a formulação contínua de uma formação profissional que esteja vinculada diretamente as necessidades sociais vigentes no campo da saúde, bem como a superação de um modo pedagógico distante do estímulo da reflexão autônoma e construtiva, superando as noções puramente técnicas e que entre no âmbito da disputa política. O segundo, que é o mais desafiador, é inserir gradualmente a política como elemento central na vida da mulher e do homem enquanto cidadãos de uma democracia. Falo agora especificamente de onde estou inserido, que é o movimento estudantil. Como tornar a política e o debate em cima de uma democracia e participação social significativa em um ambiente onde temos a maior parte dos elementos direcionado a formação profissional como estritamente fundamentada nos livros e manuais sobre saúde, deixando de lado a necessidade da experiência política enquanto elemento fundamental para qualquer profissional da saúde, enquanto agente de mudanças na vida das pessoas? Não sei a resposta exata. Mas cabe a nós, na prática cotidiana e na militância, corrermos os riscos necessários e aprendermos, com a prática, o risco, a avaliação e o estudo constante superarmos a tendência a ignorância (no sentido de ignorar mesmo) política e tornarmos os espaços de decisão, disputa e elaboração políticas novamente interessantes no corpo estudantil enquanto um todo e não mais a um número seleto de iluminados e críticos da realidade, evitando assim a fatídica prática que tende ao extremismo e o isolamento da massa.

Espero que o texto tenha contribuído em algum grau para quem o leu. Sei que fui duro. A intenção era esta. Mas coloco aqui a todos que estão dispostos a correrem esses riscos e tentarem a construção de uma nova educação em saúde, que estaremos juntos, até o fim de meus dias, nesta intensa e difícil empreitada.

Trechos de amor

 Hoje acordei com saudades, olhei o dia agradável e dei um suspiro. Depois senti orgulho e por fim esbocei um sorriso tímido e leve de felicidade.
Aí depois de tomar meu café decidi colocar aqui no blog alguns trechos sobre amor. Extraí eles de uma de minhas histórias, onde o personagem principal desconhece o amor. São trechos mais ao final do "conto". Espero que tragam algum ganho a quem ler.

"....ele então lembrou de uma destas aldeias que haviam passado, e que conversara com o decano da aldeia. Este decano lhe falou sobre algo que nomeavam “Amor”. Ele já tinha ouvido falar, mas na sua terra isso não se exercia, era sinal de fraqueza e de estupidez.. loucura. Não era para ele. Segundo o decano esse amor é algo que você sente, é um estado de espírito. Deixava as pessoas tolas mas engrandecidas. Deixava os jovens corados e os casais mais velhos rindo a toa nas tardes de verão. Era a certeza da falta e a certeza da não falta. Era o doce, o amargo, o azedo e o salgado, tudo junto, que desencadeava no sabor mais esquisito mas ao mesmo tempo que a gente acabava achando super normal e gostoso (seja lá como essa mistureba possa ser bom!). Segundo ele o amor não tem tempo nem espaço. O amor é o amor. Ele é quando não precisa ser, ele aparece quando não se chama."

Ele então reflete ao final:

"É a saudade que nos movimenta e cria. É a segurança que nos levanta e ajeita e é o carinho que nos acalma e engrandece. Não é o trabalho em cubículos, não é a ignorância e a impessoalidade que levam uma sociedade para frente. É o afeto! Essa série de dilemas, contradições, dores e alívios... do início ao fim vivemos isso. Micro e macro. É todo esse movimento. O seu movimento... nos abraços, no cuidado e nos momentos bons e ruins. Foi ele que me transformou, ele que me deixou aqui hoje... gosto de você."

Freud explica.... (esse post e a reflexão final do personagem)

Mini-entrevista sobre política

  1. Eaí pessoal! Recentemente meu colega da Psicologia, pedro Rocha, falou-me sobre o trabalho que faz em um jornal escolar. Ele fez um convite a uma entrevista a ser publicada neste jornal, com o tema "política". Resolvi deixar aqui no blog também as respostas que dei, tentando respeitar o espaço do jornal e do texto hehe. 

    Abraços




    1- Para você, o que é política?
Pergunta difícil! Hehe. Para mim política remete a dois termos: organização e posicionamento. Organização no sentido de cidade, comunidade, país. Somos seres humanos em relação, construíndo todo dia nossa civilização através de nosso trabalho e estudo cotidiano, e quando fazemos isso nos encontramos, conversamos, dialogamos. Neste sentido vivemos em uma coletividade e que para essa coletividade exista temos uma série de ”acordos”, os quais direcionam e ajudam a edificar este cotidiano. Neste sentido estamos todos envolvidos nessa sociedade, por menor que pareça ser nossa contribuição! Quando eu digo “posicionamento” refiro-me ao fato de que, as vezes, esses “acordos” que temos necessitam de mudanças. Mudanças que favoreçam e estejam de acordo com a maioria, e como a sociedade se transforma é necessário que suas leis e seu funcionamento também se modifiquem para que possamos viver em conjunto e com direito a felcidade de todos. Para isso, precisamos nos posicionar, dizer o que queremos, irmos atrás daquilo que acreditamos. Política, portanto, em última instância significa pensar e transformar a realidade social de nosso país.

2. O que é o "movimento estudantil" e o que tem a ver com política?
O Movimento estudantil, como o próprio terma implica é a mobilização dos estudantes. Sendo mais preciso, a organização estudantil. Ela é feita principalmente através das entidades estudantis como: Centros Acadêmicos (CA), Diretório Central dos Estudantes (DCE), Grêmio Estudantil e Diretórios Acadêmicos. O Movimento estudantil tem tudo a ver com política, uma vez que significa os estudantes, juntos, tentando conseguir as mudanças sociais que gostariam. Aqui na ilha temos o movimento passe livre por exemplo, que embora não seja apenas estudantil tem um ampla aprticipação deste setor. O movimento estudantil é um dos mais importantes dentro de nosso país! Somos nós, os jovens, os mais capazes a radicalizar e tomar ações audaciosas na nossa sociedade, pois estamos longe de jogos de poder e interesse que impossibilitam muitos outros setores de saírem as ruas.

  1. Como acontece o m.e. dentro da UFSC?
O ME acontece de diversas formas dentro da UFSC. As mais evidentes são através das entidades dos CA's e do DCE, embora existam outros grupos que se organizam não necessariamente vinculados as entidades, embora seja de extrema importância que as entidades sejam a referência política dentro do corpo estudantil. Temos os CA's, que representam as mobilizações específicas de cada curso e o DCE, que tenta abranger o ME universitário como um todo.

4. Como voce acha que os alunos podem se politizar ou se mobilizar dentro de uma escola?

Acredito que a primeira coisa a ser feita é conhecer o seu grêmio estudantil. Participar das reuniões e pensar se ele tem sido bom para os estudantes, se tem feito as conquistas necessárias na escola. Em caso negativo, é preciso que apareçam outras alternativas, que se formem outras chapas e que se concorra o grêmio durante as eleições, de maneira que a chapa que se mostrar melhor preparada vença pelo voto da maioria. Independente do que for, o que importa é sempre construir a sua entidade, trabalhar para que ela fique forte e representativa dentro de sua escola. A partir daí, a prática política cotidiana e o estudo vão construíndo a tal “politização”.