SOBRE AS COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES

Recentemente vimos uma nova vitória do povo negro deste país: a aprovação de cotas raciais na Universidade de São Paulo (USP). É ótimo que essa decisão tenha sido tomada e ela me faz lembrar que tenho pensado indiretamente sobre cotas no meu cotidiano.

Tenho frequentado a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em especial o Restaurante Universitário e salas de aula, inclusive como “palestrante”. E não tem um dia que eu não circule pelos espaços daquela universidade e me sinta surpreso com a diversidade de estudantes. Não é raro eu encontrar pessoas negras em coletivo ou sozinhas, trazendo seus corpos, suas vestimentas e trejeitos: marcas de seu povo e de sua cultura. É penoso admitir, mas é fato: isso é recente. Se fossemos olhar a mesma universidade há menos de 10 anos atrás, não estaríamos vendo a diversidade que vemos hoje.

Olhando para minha trajetória, estudei em uma universidade quase que absolutamente branca: a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ver negros na UFSC era caso raro e, na maioria das vezes, eram como trabalhadores terceirizados. Eu ingressei no ápice da implementação das políticas de cotas, mas ainda assim em meus anos iniciais da faculdade dava pra contar nos dedos das duas mãos (talvez até de uma) a quantidade de colegas negros do meu curso (que devia ter cerca de 450 alunos ou mais). Hoje, circulando pela UFRGS, me deparo com uma realidade muito melhor e mais bonita. Na UFSC eu me sentia num ambiente asséptico, aqui na UFRGS me sinto mais brasileiro podendo ver pessoas diversas pelos corredores. E parar pra pensar que só na metade dos anos 2000 esse quadro começou a mudar!

Mas para além do que disse acima, existe outra contribuição essencial que os cotistas têm feito para a universidade, que é tensioná-la. Vejo que estes estudantes têm trazido para a universidade críticas importantíssimas, que vão colocando novos paradigmas em relação à produção de conhecimento e a própria instituição e seu funcionamento. Aquilo que Darcy Ribeiro chamou de “A universidade Necessária”, uma universidade autônoma e que se debruce sobre os problemas do país, dá um passo adiante em sua possível consolidação com a ocupação por negros e indígenas de seus corredores, salas e laboratórios.

Não há o que lamentar ou o que ser contra: quem ganha com a presença dessas pessoas somos todos nós e nosso sistema de educação e produção de conhecimento. A vitória deles é também uma vitória para todos nós.

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